As três testemunhas ouvidas hoje em tribunal no julgamento de Vale e Azevedo, acusado de apropriação de quatro milhões de euros do Benfica, garantiram que o clube não tinha dinheiro e que o então presidente injetava dinheiro de contas pessoais.

A primeira testemunha indicada pela acusação, José Andrade e Sousa, vice-presidente com pelouro financeiro na direção de Vale e Azevedo, referiu que, quando o executivo tomou posse, «não havia dinheiro nem para papel higiénico» e afirmou que as verbas resultantes de transferências de futebolistas eram inexistentes.

«Não havia documentação de suporte no Benfica das transferências de jogadores», declarou, desconhecendo os pormenores que envolveram as vendas dos britânicos Scott Minto e Gary Charles, o marroquino El Khalej e o brasileiro Amaral, que, segundo a investigação, possibilitaram a Vale e Azevedo apropriar-se de verbas.

José Manuel Antunes, testemunha arrolada igualmente pelo Ministério Público, lembrou que, no início do mandato de Vale e Azevedo, em outubro de 1997, foi injetado «200 mil contos [um milhão de euros] para pagar ordenados».

«Era dinheiro que entrava pela mão de Vale e Azevedo», assegurou, acrescentando que «a situação do clube era de miséria total, catastrófica, sem dinheiro» e que as contas eram «auditadas e aprovadas em assembleia geral».

O vice-presidente da direção de Vale e Azevedo (substituiu Ribeiro e Castro, o primeiro do elenco a demitir-se, passados quase sete meses) disse que sabia da existência da conta corrente do presidente.

Disse ainda que, depois de um período de penhora de contas bancárias do Benfica, os vice-presidentes tinham conhecimento que eram movimentadas contas tituladas por Vale e Azevedo e pela sociedades de advogados deste.

A testemunha aludiu ainda a uma conta aberta no Barclays, no Saldanha, «gerida pela contabilidade do Benfica, para contornar as contas que estavam bloqueadas».

Mendes Pinto, vice-presidente para a área jurídica no consulado de Vale e Azevedo, também efetivo a partir de abril de 1998, frisou que «a aflição era do dia a dia» e salientou que «a principal preocupação era a falta de dinheiro».

«Não me lembro de, durante os três anos de presidência de Vale e Azevedo, o Benfica ter tido um período de desafogo», disse, esclarecendo que o então presidente «referiu que tinha colocado várias vezes dinheiro seu no clube para fazer face a despesas».

Também sem conhecer os pormenores das transferências de futebolistas, Mendes Pinto, que notou que «teria de haver sempre no clube receitas extraordinárias», disse que «havia cheques da Vale e Azevedo & Associados no Benfica, já assinados, para serem preenchidos».

A próxima sessão está programada para 18 de dezembro, com a inquirição de três testemunhas, dois inspetores das Finanças e um outro vice-presidente do elenco de Vale e Azevedo.

O antigo presidente do Benfica, extraditado para Portugal a 12 de novembro e atualmente preso no Estabelecimento Prisional da Carregueira (Sintra), esteve hoje em audiência durante 15 minutos e responde pelos crimes de peculato, abuso de confiança, falsificação de documento e branqueamento de capitais.

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