O dragão é um símbolo da cidade do Porto muito antes de ser associado ao Futebol Clube do Porto (FCP), cujo emblema reproduz as armas da cidade tal como foram promulgadas em 1837, defende o investigador Joel Cleto.
No livro “Lendas do Porto”, Joel Cleto dá conta de que na cidade o dragão está representado em vários monumentos, como numa das faces da torre da Casa dos 24, ao lado da Catedral, em fontanários, como o que se encontra nos jardins do Barão de Nova Sintra, ou na estátua de D. Pedro IV na avenida dos Aliados.
Deve-se a D. Pedro IV o epíteto de “cidade invicta” designando o Porto, pelo forte apoio da cidade às tropas liberais do monarca contra as absolutistas lideradas pelo seu irmão D. Miguel que cercavam a cidade. Este episódio histórico que causou «inúmeros mortos» valeu ao Porto vários privilégios atribuídos pelo monarca que quis deixar na cidade o seu coração que se encontra atualmente num dos altares da igreja da Lapa, adornado também com um dragão.
A Rainha D. Maria II, filha de D. Pedro IV, promulgou o brasão de armas da cidade, que incluía uma coroa ducal, segundo a vontade do seu pai. D. Pedro decretou que o filho segundo do Rei ostentaria o título de duque do Porto, e, diz Joel Cleto no livro, «dessa coroa sobressai um dragão negro das antigas armas dos senhores reis destes reinos».
Deste modo, o emblema do Futebol Clube do Porto, escolhido em 1922 por sugestão do jogador Augusto Baptista Ferreira, reproduz o que representou a cidade até à reforma heráldica de 1940 que lhe retirou a coroa ducal e o dragão.
O livro de Joel Cleto regista 21 lendas sobre a Invicta e revela o que nelas há de verdade e imaginação popular que à força de tanto ser repetido se julga verdadeiro, como as madeiras da casa de chá de Leça serem de navios antigos ou o caso da sepultura do abade Moura, conhecido como o “Padre Santo” da Foz, ou São Pantaleão que foi durante mais de cinco séculos o padroeiro da cidade, só “substituído” em 1981 por Nossa Senhora de Vandoma.
As relíquias de S. Pantaleão cuja procissão foi uma das mais concorridas até meados da década de 1960, terão chegado ao Porto por intermédio «de um grupo lendário de arménios».
Outra lenda desvendada por Cleto é a da placa que ostenta a ponte D. Luís, que segundo a tradição ao nome lhe foi retirado o «dom» pelo facto de o monarca não ter comparecido à inauguração do tabuleiro interior e assim ficou apenas cinzelado “Ponte Luiz I”. O autor de "Lendas do Porto", afirma que nada disto é verdade e que pela mesma época há várias placas em que os membros da família real perderam o tratamento de “dom”, não se devendo, no caso da ponte, a uma retaliação da cidade ao capricho régio.
Joel Cleto, 47 anos, é arqueólogo e colabora com a televisão Porto Canal num programa sobre História e Património. Desde 1986 é colaborador da revista O Tripeiro.