O antigo presidente do Sporting Jorge Gonçalves disse que a atual crise leonina lhe permite concluir que já não é o pior líder da história do clube, porque já há outros acusados de o ser.
Em entrevista à agência Lusa no seu escritório sobre a baía de Luanda, onde exerce a profissão de despachante alfandegário, Jorge Gonçalves retira para já uma conclusão desta crise: «Pelo que leio, agora já não sou o pior presidente que o Sporting teve. Agora há outros que são acusados de o ser».
A viver e a trabalhar em Luanda, a distância permite-lhe um olhar mais completo sobre o que se passa no clube, que dirigiu entre junho de 1988 e junho de 1989.
«Eu acho que é uma maneira de as pessoas reagirem quando o Sporting está na maré baixa. Mas acho que todos fizemos o melhor que pudemos, dentro das possibilidades. Mas, enfim, a diferença agora é a parte financeira, a parte desportiva, e chegou-se a uma situação um bocado difícil, que eu tenho algumas dúvidas se haverá capacidade para dar a volta ao assunto», considerou.
Jorge Gonçalves defende que a construção do novo estádio está na base das dificuldades financeiras que o clube atravessa e os recentes resultados desportivos, com a “dança” de treinadores, acentuaram essa crise.
«A parte financeira piorou depois de o estádio ter sido feito. Toda aquela engenharia financeira feita, pelas pessoas que realmente percebiam de engenharia financeira, deu no que deu. Houve ali uma fase que eu senti que o Sporting dava a volta à situação, no tempo da gerência do Filipe Soares Franco», admitiu.
No entanto, essa “sensação” de Jorge Gonçalves esfumou-se, assim como a esperança de o clube se reabilitar. «Depois, a seguir ao Filipe Soares Franco, as coisas realmente complicaram-se e acredito que agora é muito tarde, é difícil conjugar o problema financeiro, que talvez se resolva, e o problema desportivo, que se deixou arrastar durante um bom bocado. Perderam-se muitos jogos, entrou muita descrença, e está-se mal», sintetiza.
Quando se lhe pede um nome para o próximo presidente, Jorge Gonçalves prefere apontar o perfil.
«Não tenho nomes em especial. Só acho é que a pessoa que tiver amor ao Sporting, dinheiro, tempo e paciência, e além de tudo isso se rodear de uma equipa que não se deixe enganar pelo mercado que é o futebol, acredito que dá a volta rapidamente à situação», frisou.
Para o antigo dirigente, é fundamental a união de todos para que o clube não aprofunde a crise, porque o risco é a descida, como aconteceu a outros grandes clubes. «Não basta só ter um bom treinador a dirigir a equipa. O elenco diretivo ou quem acompanha a equipa também tem de perceber o que é que está a fazer. Isto é tudo um conjunto, não é nenhuma brincadeira, porque, e como eu costumo dizer a muita gente, o futebol também é desporto», acrescentou.
Com as eleições do Sporting marcadas para 23 de março, Jorge Gonçalves defende que quem quer que seja eleito deve ter «apoio generalizado».
«Senão vai ser um disparate. O ‘leão’ vem pela ribanceira abaixo e vai-se estatelar. Vai descer de divisão», alertou.
Jorge Gonçalves diz que ninguém o contactou para as próximas eleições, mas garante estar sempre disponível para o clube, contestando o que classifica como a «feira de vaidades» que se monta nestas alturas.
«Até é fácil qualquer pessoa dizer que é candidato, porque é maneira de aparecer na televisão. O Sporting é uma coisa séria, importante demais para ‘fait divers’ de algumas pessoas. Acho que a pessoa que queira realmente ajudar o Sporting, tomar conta do Sporting, tem de demonstrar que tem capacidade e não fazer filmes. Porque pode ser um filme de terror, como muitos, alguns já enfrentaram», referiu.
Recorrendo à sua experiência, Jorge Gonçalves advertiu: «Estando lá, aquilo pesa em cima dos ombros. É muito pesado o Sporting».