O inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ) Henrique Noronha afirmou hoje em tribunal que o antigo árbitro Martins dos Santos lhe disse que os 1100 euros encontrados no seu carro, em 2011, eram de «um certificado de aforro».

Henrique Noronha fez parte da equipa de seis elementos da PJ que, em maio daquele ano, abordou e deteve Martins dos Santos, depois de este se ter encontrado com o então presidente da Associação Desportiva de São Pedro da Cova, Vítor Silva.

A Judiciária fez «uma busca sumária» ao carro do ex-árbitro e encontrou um envelope contendo 1100 euros em notas, que alegadamente tinha acabado de ser entregue a Martins dos Santos pelo dirigente desportivo.

Nessa época, o São Pedro da Cova disputava o Campeonato Distrital da Associação de Futebol do Porto (FP) e corria o risco de ser despromovido.

A acusação diz que Martins dos Santos ofereceu a Vítor Silva os seus préstimos, prometendo usar a sua influência entre os árbitros para salvar o clube.

Em troca dos seus serviços, terá pedido 5000 euros.

É por isso que Martins dos Santos está a ser julgado no tribunal de Gondomar, sob a acusação de tráfico de influências.

Henrique Noronha contou que foi Vítor Silva quem ligou para a PJ a denunciar Martins dos Santos, informando que nesse mesmo dia tinha um encontro marcado com o arguido para lhe entregar o dinheiro.

O agente disse ainda que o dirigente do São Pedro da Cova referiu que a AFP, que já teria sido alertada antes, teria enviado "um fax" para a polícia. Mas o tal fax nunca foi visto, adiantou depois.

O encontro tinha sido marcado para o parque anexo ao Pavilhão Multiusos de Gondomar.

«Quando lá chegamos, já lá estava o BMW de Martins dos Santos parado», recordou Henrique Noronha.

Vítor Silva chegou depois. O antigo árbitro dirigiu-se ao seu carro, demorou-se lá alguns minutos, saiu e, segundo Henrique Noronha, foi abordado pela PJ quando «já estava sentado» na sua viatura.

O arguido nega que já estivesse sentado quando a polícia o abordou, afirmando que tinha a porta do seu carro aberta e que se preparava para entrar nele.

O envelope com o dinheiro foi encontrado por uma inspetora sob o banco do condutor, mas os cinco agentes ouvidos em tribunal disseram que não viram Martins dos Santos escondê-lo lá ou sequer com ele nas mãos.

O inspetor afirmou também que, na altura, Martins dos Santos respondeu que o dinheiro «era proveniente de um certificado de aforro».

Na primeira audiência, o arguido afirmou que não sabia o estava dentro do envelope.

Noronha afirmou ao tribunal que o envelope estava aberto e que o seu conteúdo não podia ser confundido com documentos.

«Qualquer pessoa veria que o envelope continha notas até porque tinha uma janela», precisou depois uma inspetora.

Martins dos Santos, porém, declarou ao tribunal que Vítor Silva lhe disse que dentro do envelope estavam «depósitos de clubes para o Carlos Carvalho».

Carlos Carvalho era o presidente do Conselho de Arbitragem da AFP nesse ano e o tribunal marcou o seu depoimento para dia 5 de abril.

O mesmo inspetor declarou também que falou, por telefone, com Lourenço Pinto, que era o presidente da AFP, mas este «não demonstrou interesse em esclarecer a situação».

Henrique Noronha realçou que a PJ insistiu tentando obter a colaboração de Lourenço Ponto, alegando que o «assunto parecia grave», mas foi em vão.

«Ele não chegou a ser inquirido» porque não mostrou interesse, completou Henrique Noronha.