A crise do futebol profissional do Sporting é a causa e o reflexo da situação financeira do clube lisboeta, cujo passivo consolidado ultrapassa os 400 milhões de euros (ME), metade do qual da responsabilidade da SAD.

Vários responsáveis dos “leões” têm advertido que o único caminho para a sustentabilidade de um clube que conquistou 18 títulos de campeão português passa pela reestruturação financeira, alicerçada num perdão parcial da dívida, na redução da taxa de juro e no alargamento do prazo para o pagamento da dívida.

Godinho Lopes não resistiu aos maus resultados da equipa de futebol, mas a gestão das contas e da política de contratações de jogadores do clube de Alvalade também tem suscitado as maiores críticas dos opositores do presidente do Sporting, que se demitiu a 04 de fevereiro, em conjunto com os restantes órgãos sociais.

A principal consequência de uma reestruturação financeira com perdas assumidas pelo setor bancário deverá passar por uma redução drástica dos custos, em especial com o futebol, que este ano arrancou com um orçamento superior a 30 ME e que é principal responsável pelo crónico prejuízo anual do “universo Sporting”, cifrado em 50 ME, aproximadamente.

Só a SAD deve mais de 66 ME em empréstimo bancários, de acordo com o último relatório e contas semestral, o que contribui em muito para o passivo total de 243,5 ME, contra um ativo que não ultrapassa os 146 ME, o que significa que se a sociedade fechasse as portas os credores teriam perdido 97,5 ME.

O Sporting paga perto de um milhão de euros por mês em juros e debate-se com uma situação de tesouraria tão preocupante que Godinho Lopes chegou a advertir que o próximo presidente do Sporting teria que disponibilizar 25 milhões de euros até ao fim da presente época desportiva.

No mais recente relatório semestral enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) é reconhecido que o aumento do passivo se deve em grande parte ao acréscimo da dívida financeira, rubrica na qual estão incluídos os encargos com empréstimos bancários, que disparam de 36 ME para 66 ME nos últimos seis meses.

Do lado do ativo, a SAD está ainda condicionada pelo facto de não deter a totalidade dos direitos desportivos de vários dos seus futebolistas mais influentes, o que reduz drasticamente o encaixe em caso de transferências “milionárias”, que também têm passado ao lado dos “leões” nos últimos tempos.

Os candidatos à presidência dos “leões” são unânimes em reconhecer a necessidade de apostar nos jovens futebolistas formados na academia do clube e reduzir o peso da rubrica de custos com o pessoal, que na época passada ascenderam a 42 ME e só no primeiro semestre de 2012/13 subiram 2,6 ME em relação ao mesmo período do exercício anterior.

O passado recente do Sporting aponta precisamente nesse sentido, com a saída em janeiro de vários futebolistas que representavam elevados encargos mensais para a SAD e a aposta numa equipa rejuvenescida com vários jogadores da equipa B para atacar o último terço do campeonato.

A crise desportiva repercute-se de forma dramática na tesouraria e a ausência prolongada da Liga dos Campeões tem custado muitos milhões aos cofres “leoninos”: a qualificação para as meias-finais da Liga Europa na época passada rendeu um total de 4,3 ME em prémios, cerca de um quinto do que encaixou o Benfica pela presença nos quartos de final da “Champions”.

O “fair-play” financeiro instituído pela UEFA poderá constituir-se como a próxima grande ameaça ao clube de Alvalade, que já teve os prémios de participação nas competições europeias retidos temporariamente e foi alvo de uma investigação do Comité de Controlo Financeiro de Clubes, que não detetou irregularidades.