Antigo treinador do FC Porto e do Sporting relembra o dérbi da 2.ª Circular da época 1985/1986 e considera que a equipa de Jorge Jesus tem a obrigação de vencer o jogo de domingo.
Se há clube em Portugal que estará sempre interessado no resultado final de um dérbi da capital é o FC Porto. E no próximo domingo, independentemente do resultado obtido em Moreira de Cónegos, os dragões vão, certamente, torcer por um deslize dos líderes do campeonato, tal como em 1986, época em que os leões entregaram o título ao FC Porto com uma vitória na Luz por 1-2.
Na época de 1985/1986, o campeonato nacional chegava à penúltima jornada com o Benfica na liderança e o FC Porto em segundo lugar. Os encarnados recebiam então o Sporting no Estádio da Luz enquanto o FC Porto deslocava-se ao Estádio do Bonfim para defrontar o Vitória de Setúbal na penúltima jornada. Octávio Machado era o treinador adjunto de Artur Jorge nesse jogo e recorda as emoções fortes desse jogo, sempre com atenção ao dérbi da Luz.
«Lembro-me que foi um campeonato decidido nas últimas jornadas. O Benfica estava na frente, jogava em casa com o Sporting, mas dérbi é dérbi e na altura as equipas eram diferentes. O estado de espírito era diferente. A diferença entre as equipas era diferente e o FC Porto jogava em Setúbal contra um adversário difícil, bem diferente que é hoje o Vitória de Setúbal, e aquilo que tínhamos de fazer era cumprir a nossa missão e esperar que na Luz pudesse acontecer alguma coisa de diferente», começou por contar o treinador português ao SAPO Desporto.
Apesar da concentração dos jogadores do FC Porto em vencer o Vitória de Setúbal, nas bancadas do Bonfim havia milhares de adeptos do FC Porto com os ouvidos colados à rádio para seguir o jogo da Luz.  Enquanto Futre tinha uma das suas arrancadas pelo lado direito, a equipa técnica dos dragões ia percebendo, pelas reações das bancadas, que o título estava cada vez mais próximo.
«Só sabíamos do resultado pelas reações na bancadas mas aquilo que tínhamos de fazer, e para o qual estávamos concentrados, era ganhar. Não fazia sentido dispersar até porque o Vitória de Setúbal era um adversário de muito respeito. Jogar em Setúbal não era fácil naqueles tempos, e numa jogada extraordinária do Futre pelo lado direito, em que ultrapassou tudo e todos mesmo “à Futre”, fez o 1-0. Depois com a derrota do Benfica em casa perante o Sporting já não deixamos fugir o campeonato na última jornada a jogar em casa», recorda Octávio Machado.
Em relação ao dérbi da atualidade, Octávio Machado reconhece que a diferença entre as equipas é muito grande, mas frisa que a vontade dos leões em reabilitar-se perante os seus adeptos poderá vir a ser determinante para o desenrolar do jogo.
«Costuma-se dizer tanta coisa, que quem está pior vence e tudo mais, mas isso é tudo sofismas, acontece às vezes», começou por dizer Octávio Machado quando questionado sobre a diferença entre Benfica e Sporting para o jogo de domingo.
«O Benfica é favorito, está muito melhor e não é só estar melhor, o Sporting vive uma época de desilusão, apesar de alguns resultados mais positivos nas últimas jornadas. À exceção do jogo com o SC Braga, o Sporting não tem tido exibições afirmativas e este jogo depende mais do Benfica do que do Sporting. Obviamente, o Sporting vai entrar motivado. O Sporting quer reabilitar-se aos olhos dos seus adeptos e sócios, preparar o futuro, mas não há qualquer dúvida de que o Benfica é uma equipa muito mais equilibrada e estável. Em 1986, o Benfica era favorito, jogava em casa, mas a diferença entre as duas equipas é de uma ordem diferente da que é hoje.  Esse jogo marcou o início da hegemonia do FC Porto no passado recente. Aquilo mostrou que nós a jogarmos fora num estádio complicado fizemos o que era difícil, que era ganhar, e o Benfica não conseguiu vencer no seu estádio perante o Sporting, o que proporcionou nessa parte final do campeonato à equipa do FC Porto tornar-se mais forte do que o Benfica em termos mentais, em termos de disponibilidade e em termos de concentração», apontou Octávio Machado.
Em relação ao que resta do campeonato, Octávio Machado prevê um ciclo muito difícil para a equipa de Jorge Jesus devido à deslocação à Madeira, para defrontar o Marítimo, e à Turquia, para jogar a primeira mão das meias-finais da Liga Europa com o Fenerbahçe. Para o ex-técnico do FC Porto e Sporting, o desgaste acumulado da equipa encarnada nesta reta final de época, e a forma como Jorge Jesus dará continuidade à sua estratégia de rotatividade do plantel, será um dos factores determinantes para o Benfica alcançar os objetivos desta temporada.
«Nestas três jornadas, o Benfica vai ter mais oito jogos, no mínimo, do que o FC Porto, e se for à final da Liga Europa sobe então para nove. Isto, no final de temporada, em que o desgaste acumulado e é um factor que temos de ter em conta. Naturalmente que as vitórias e a maneira como o futebol do Benfica foi montado esta temporada, a maneira com tem sido gerido e a resposta que os jogadores menos utilizado têm dado quando chamados dá algumas garantias ao Benfica para este final de temporada. E o Benfica tem agora um ciclo de três jogos muito difíceis. Jogam com Sporting, Fenerbahçe e Marítimo e considero que o Benfica vai determinar o êxito do seu futuro nestas próximas três jornadas. Quer no campeonato, quer na Liga Europa, esta próxima semana e meia vai ser decisiva», sentenciou Octávio Machado.
Benfica e Sporting defrontam-se no estádio da Luz no próximo domingo às 20h15.