O antigo selecionador português Carlos Queiroz considerou hoje que o “trono” de Eusébio «não pode ser ocupado, porque o seu reinado não existe mais» e que o antigo futebolista é «uma figura universal, que pertence a todos».

«Eusébio foi um pedaço de um Portugal diferente, de um Portugal maior, sem fronteiras, multicultural, multicontinental. O seu trono não pode ser ocupado porque o seu reinado não existe mais», disse Carlos Queiroz, em declarações à agência Lusa, em reação ao falecimento do “Pantera Negra”.

O ex-selecionador nacional considerou que Eusébio, «tal como Pelé e Maradona, não é um jogador de futebol, é o próprio jogo, é pensar, ver e sentir o futebol» e faz uma distinção «entre os grandes jogadores que existiram e existem e os que são o próprio futebol, como é o caso do “Pantera Negra».

Queiroz recordou que teve a «honra e o privilégio» de ter um papel decisivo na reaproximação de Eusébio à Federação Portuguesa de Futebol e às seleções nacionais durante a sua primeira passagem pela equipa das “quinas”.

«Decidi sozinho convidá-lo para estar junto dos jogadores, no lugar que lhe pertencia, quando o Eusébio, por razões que não quero focar neste momento, estava afastado do dia-a-dia das seleções. Sinto orgulho por ter tomado essa posição numa altura em que havia alguma menor simpatia à sua volta», referiu.

De resto, a presença de Eusébio junto da seleção no Mundial da África do Sul também ocorreu na sequência de um convite de Carlos Queiroz a Eusébio, tendo «acompanhado de perto o dia-a-dia da seleção, confortando, aconselhando e opinando sobre a equipa».

«Neste dia, 05 de janeiro de 2014, não foi Eusébio que faleceu, foi uma parte de mim, uma parte de nós, dos que amam e vivem o futebol, de uma geração de portugueses muito peculiar. Com esse pedaço de todos nós que desapareceu, Eusébio recriou-se, reinventou-se para a vida, pela junção destes milhares de pedacinhos que hoje ficaram mais pobres e mais tristes pelo mundo inteiro», observou Queiroz, que recorda a afinidade que o liga a Eusébio por ambos terem nascido em Moçambique.

O atual selecionador do Irão recordou ainda «a mensagem de confiança, de determinação, de fé que transmitia em vésperas dos jogos», uma convicção que traduzia uma «superior capacidade para estar sempre acima das normais dificuldades da vida» e que na hora do seu desaparecimento físico se «recriou e reinventou para uma vida eterna».

Confrontado com o recente desagrado de Eusébio pelas comparações com Cristiano Ronaldo, Carlos Queiroz fez uma leitura simples: «Cada rei tem o seu trono, o seu reinado, o que é indiscutível é que esse reinado já não existe e esse trono não pode ser ocupado. Eusébio é universal, de um Portugal diferente, maior, que não existe mais. Pertence a todos, ao Benfica, ao FC Porto, ao Sporting».

Eusébio da Silva Ferreira morreu hoje às 04h30 vítima de paragem cardiorrespiratória.

O “Pantera Negra” ganhou a Bola de Ouro em 1965 e conquistou duas Botas de Ouro (1967/68 e 1972/73). No Mundial Inglaterra de 1966 foi considerado o melhor jogador da competição, na qual foi o melhor marcador, com nove golos.

Na mesma competição, Portugal terminou no terceiro lugar.

Eusébio nasceu a 25 de janeiro de 1942 em Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique.

O corpo do antigo jogador de futebol Eusébio estará em câmara ardente no Estádio da Luz, porta 1 (acesso pela porta 11), a partir das 17:30 de hoje, anunciou hoje o Benfica, com a missa a realizar-se na segunda-feira às 16:00 na Igreja do Seminário no Largo da Luz, após o que o corpo segue para o cemitério do Lumiar, onde o funeral se realiza às 17:00.