O retrato de um futebolista humilde, “uma qualidade extraordinária para mostrar às crianças”, inspirou Filipe Ascensão a realizar com Eusébio o documentário a “História de Uma Lenda”, um projeto ainda em produção e com estreia prevista para julho.
A morte da maior estrela do Benfica e grande símbolo do futebol português, a 05 de janeiro, motivou uma alteração do plano inicial, transformando o filme num misto de documentário e ficção, uma mudança que adiou em dois meses a estreia.
“Ainda estamos em fase de montagem. A estreia estava inicialmente prevista para maio. Dentro do documentário fizemos uma ficção com uma criança de Mafalala [bairro de Maputo onde nasceu Eusébio]. Vamos necessitar de mais tempo para isso e deverá estrear em julho”, disse à agência Lusa Filipe Ascensão, um luso-francês que se estreia na realização.
Uma relação de mais de três anos ia concluir-se a 25 de janeiro, data prevista para a primeira apresentação do documentário. A morte do “Pantera Negra” forçou a uma alteração de planos e um novo argumento.
“Foi um processo natural nos últimos três anos. No primeiro ano batalhei muito para encontrar financiamento e escrever o guião. Deu-me também tempo para desenvolver a relação com Eusébio, que estava muito envolvido no projeto. Tinha muita vontade de o ver e fazer. Essa é a grande tristeza”, confessou.
Segundo Filipe Ascensão, Eusébio “chegou a ver partes” do filme, embora preferisse esperar pela conclusão da película: “Dizia-me que preferia ver tudo no fim. Tínhamos decidido juntos que a estreia seria em maio. Estava muito feliz por ser antes do Mundial”.
O primeiro contacto com o antigo jogador tinha ocorrido há 10 anos, quando Filipe Ascensão tinha apenas 21 anos, graças à ajuda de um amigo. Sete anos depois, voltou a Portugal e não mais largou o projeto que queria realizar com Eusébio.
“Criou-se rapidamente uma relação de amizade. Vim para Lisboa sozinho. Ele apadrinhou-me e começámos a criar uma relação de confiança. Nas entrevistas não estava à vontade. Precisei de criar essa relação, porque uma câmara e um jornalista colocavam uma barreira de que ele não gostava muito”, explicou o realizador.
Para a película, quis transmitir, sobretudo, a humildade de Eusébio, “uma qualidade extraordinária para mostrar às crianças que se encontra pouco” nos dias de hoje.
“Eusébio veio de um bairro muito pobre. Hoje, todas as crianças sonham vingar no futebol, porque atrai muito dinheiro e fama. A humildade é uma qualidade que se encontra pouco. Mesmo sendo considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, Eusébio manteve essa qualidade extraordinária”, reforçou.