Os clubes portugueses decidiram hoje debater o futuro do futebol profissional longe da direção da Liga, em reunião prevista para a próxima semana, em que o modelo de governação será um dos pontos em agenda.

A clivagem entre a direção de Mário Figueiredo, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), e a maioria dos emblemas ganhou hoje novos contornos, com a suspensão inesperada do Conselho de Presidentes, o único realizado desde o início da época.

No encontro, que decorreu na sede do organismo, no Porto, os 29 emblemas presentes votaram por unanimidade a interrupção dos trabalhos, considerando não haver condições para debater o que consideram ser os assuntos mais importantes: a situação na própria Liga.

Será relevante afirmar que estiveram em peso os presidentes da maioria dos clubes, nomeadamente dos três “grandes”: Luís Filipe Vieira, Pinto da Costa e Bruno de Carvalho, tendo faltado à reunião apenas quatro emblemas: Vitória de Setúbal, Paços de Ferreira, Moreirense e Feirense.

O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, um dos 18 clubes signatários de uma proposta de destituição da direção do organismo, confirmou ter existido “ausência de condições” de debate, afirmando ter ficado o Vitória de Guimarães e a Oliveirense encarregados de agilizar um encontro aberto a todos os clubes das duas divisões profissionais.

Para contextualizar a decisão de suspensão, o líder portista recordou as três negas do presidente da Mesa da Assembleia-Geral da LPFP ao requerimento de destituição de Mário Figueiredo: “Esteve sempre agarrado às legalidades, mas há dois anos que não há AG, o que é a maior ilegalidade”.

Sem abrir o jogo sobre as matérias a defender, Pinto da Costa afirmou que o “estado lamentável a que chegou a Liga não é apenas culpa deste presidente”, pois “já vem de responsáveis anteriores”, referindo-se a Fernando Gomes, que esteve no cargo antes de ser eleito presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

“Sendo a Liga uma associação patronal, não faz sentido que os patrões não estejam representados na sua direção, que tem um executivo constituído por gente que não percebe nada de futebol”, referiu o dirigente do FC Porto.

Pinto da Costa defende o regresso dos clubes à direção do executivo, mas excluiu qualquer intenção de candidatura dos “dragões” à mesma.

Porém, para isso, é preciso mudar o modelo de governação: “O anterior presidente fez aprovar estatutos que excluem os clubes da direção e criou um Conselho de Presidentes, que é meramente consultivo”.

Relativamente à reunião da próxima semana, Pinto da Costa afirmou que o que está em causa não é o presidente da Liga, mas “qualquer presidente, pois não faz sentido escolher-se uma pessoa que, depois, pode admitir ou demitir quem lhe apetecer e os clubes nada terem a ver com isso”.

Questionado sobre o facto de os três “grandes” terem votado da mesma forma, respondeu: “Entre dois deles, pelos vistos, não há clivagens. Mas, quando o interesse é comum, seria estúpido não votar no mesmo sentido”.

Confrontado com esta resposta de Pinto da Costa, Bruno de Carvalho, do Sporting, foi lacónico: “Os clubes presentes têm interesses comuns e estiveram unidos para arranjar soluções, todos muito de acordo, do lado de querer fazer melhor”.

A propósito da fórmula de governança defendida uns minutos antes pelo presidente do FC Porto, o líder sportinguista recordou que, no passado dia 19, houve uma reunião na Liga, “onde não estiveram presentes todos os clubes, mas onde foram propostas mudanças nesse sentido”.

Sem mencionar que tipo de futuro preconiza para a Liga, com ou sem o atual presidente, Bruno de Carvalho sintetizou: “Mário Figueiredo não é tema de hoje. Somos 33 clubes com vontade de alterar a situação”.

Júlio Mendes, presidente do Vitória de Guimarães, aludiu à “falta de condições” para a realização do Conselho de Presidentes, considerando que “foi dado um sinal claro de que esta direção da Liga não está em sintonia com os clubes”.