Os árbitros de primeira categoria discutiram hoje avançar com uma paragem dos campeonatos profissionais em protesto pelo “clima de hostilidade à classe e pela ineficácia das instâncias disciplinares”, mas acabaram por deixar essa decisão em suspenso.

“É verdade que a paragem dos campeonatos esteve em cima da mesa, mas decidimos esperar para ver como as coisas vão evoluir e não tomar, para já, uma posição de força de modo a contribuir para a pacificação e a tranquilidade do futebol português”, disse hoje à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), José Gomes.

A ameaça de paragem dos campeonatos foi hoje discutida numa reunião que decorreu em Rio Maior, que envolveu todos os árbitros de primeira categoria convocados pelo presidente do Conselho de Arbitragem (CA), Vítor Pereira, para debateram a questão das pressões que têm sido exercidas sobre os árbitros nos últimos meses.

José Gomes, que justificou a iniciativa com "o clima de hostilidade que se vive em torno dos árbitros e a ineficácia das instâncias disciplinares", reconheceu que foram debatidas “outras formas de luta”, além da paragem dos campeonatos profissionais, mas acabou por ser dado “um voto de confiança à APAF e ao CA pelo trabalho desenvolvido” e o “benefício da dúvida, que é ao mesmo tempo um contributo, para a pacificação e tranquilidade do futebol português”.

“Vamos ficar na expectativa de que possa ocorrer uma mudança radical na atitude dos dirigentes e nos próprios regulamentos disciplinares”, disse José Gomes, que contesta decisões dos órgãos jurisdicionais da Liga e da FPF.

Dá exemplos concretos: “Como é possível que o árbitro Bruno Esteves tenha sido alvo de um processo e sancionado por não ter mencionado no relatório coisas que não viu no célebre Vitória de Guimarães-Benfica e que o processo ao presidente do Sporting de Braga, António Salvador, tenha sido arquivado depois de ter chamado ladrão ao árbitro Olegário Benquerença?”.

José Gomes alega que Bruno Esteves “já não estava no relvado” quando se desencadearam os incidentes que envolveram o treinador do Benfica, Jorge Jesus, e alguns elementos das forças policiais, que procuravam deter um adepto dos encarnados que invadira o relvado.

Questionado se o árbitro em causa não deveria ter permanecido no relvado, José Gomes escudou-se no recurso que Bruno Esteves apresentou para o Conselho de Justiça para não responder à questão, mas referiu que os delegados ao jogo “deveriam ter informado o árbitro” do que se passou no relvado após o final do jogo, e que “não o fizeram”.

O líder da APAF elogiou ainda “o apoio excecional fornecido pela FPF” aos árbitros, “nomeadamente pelo presidente Fernando Gomes”, sobretudo pela “preocupação e pelas iniciativas tomadas para salvaguardar a segurança dos árbitros e das suas famílias”.