António Miguel Nunes Ferraz Leal de Araújo nasceu a 22 de abril, tem 49 anos, e é um homem experiente no mundo do futebol. Possuí já uma vasta carreira que já conta com 29 anos de duração. O novo técnico do Moreirense, que assegurou a subida do Penafiel, foi contratado para substituir o campeão da segunda liga, António Conceição.

Mais conhecido no mundo do futebol como Miguel Leal, o treinador natural de Marco de Canavezes foi o escolhido pelo presidente, Vítor Magalhães. Formado em Educação Física, mestre em Ciências do Desporto e Psicologia e doutorado em Psicologia. Ao longo da sua carreira trabalhou nas camadas jovens de vários clubes, como treinador adjunto e preparador físico antes de se assumir definitivamente como técnico principal.

Apesar da vasta experiência no mundo do futebol, esta é a primeira vez que abraça um desafio na primeira liga como timoneiro principal. Passou por Leixões (2001/02), Penafiel (2003/04 e 2008/09), Paredes (2005/06), Beira-mar (2006/07) e Aliados de Lordelo (2007/08) como treinador adjunto e trabalhou com técnicos como Carlos Carvalhal, Manuel Fernandes, Rui Quinta e Augusto Inácio.

Na segunda liga, treinou vários clubes, sendo claramente um homem de desafios e um profundo conhecedor tanto do plano tático como do físico. Miguel Leal passou também pelo Gaziantepspor, do futebol turco, como preparador físico, a sua primeira e única experiência fora de Portugal.

Entre 2012 e 2014, foi técnico principal pela terceira vez na sua carreira – havia treinado o Régua (1999/00) e o FC Marco (2002/03) -, conseguindo um terceiro lugar para o Penafiel em 2013/14 e a consequente subida do clube à primeira liga. O seu único título como treinador foi o campeonato nacional de juniores, conseguido ao serviço do Penafiel, em 2011/12.

Esta temporada, Miguel Leal será coadjuvado por Álvaro Pacheco (treinador adjunto), Elias Nunes e Leandro Mendes (preparadores físicos), Silvino (treinador de guarda-redes), António Cunha (médico), Pedro Figueiredo e João Silva (fisioterapeutas), André Oliveira (dentista) e Carlos Machado (massagista).

SAPO Desporto: Foi o convite do Moreirense que o fez sair do Penafiel ou já tinha decidido sair antes de ser contactado pelo Moreirense? Tinha clubes do estrangeiro?

Miguel Leal: Terminado o campeonato analisei todas as possibilidades que surgiram e o Moreirense foi aquela que parecia mais desafiadora e a partir dai, a decisão tomada foi tomada de forma racional, a opção foi o Moreirense. Não tinha propostas do estrangeiro.

SD: Não sente que traiu os adeptos do Penafiel por ter trocado um clube que subiu à primeira liga por outro que também conseguiu o mesmo objetivo?

ML: Não, claro que não. Eu fiz o meu papel, todos os adeptos do Penafiel sabem e reconhecem que eu dei o meu melhor em prol do clube. Mas, como todos os filhos, chega um dia em que têm de sair de casa e ir à luta e eu, como bom filho que sou, se calhar um dia voltarei a casa. E terei as portas abertas porque eu sempre respeitei toda a estrutura do Penafiel, os adeptos e dei sempre o melhor em prol do Penafiel. Além disso, senti a necessidade de dar um passo em frente. Como é natural, os filhos crescem, ficam maduros e precisam de seguir o seu caminho. Estou muito agradecido ao clube pela possibilidade de desenvolver a minha carreira e eu também agradeci com a qualidade do meu trabalho e com o sucesso que o clube teve no ano passado. Um treinador gosta de novos desafios.

SD: Qual foi o projecto que o Moreirense lhe apresentou? Que projecto lhe foi proposto?

ML: A proposta do Moreirense baseia-se no pressuposto de garantir a manutenção e tentar valorizar os jogadores que entrarem no plantel. Esses são os grandes desafios para essa época e são os que eu tentarei valorizar ao máximo.

SD: Conta com muitos reforços no plantel e ainda espera mais?

ML: Sim, precisamos ainda de um bom seis, um bom oito e, neste momento, mais um guarda-redes. O Ricardo decidiu sair e temos de colmatar essa posição.

SD: Foi falado do interesse do Vitor Gomes, está interessado no jogador?

ML: Neste momento qualquer bom jogador nos interessa. Pessoalmente, gostava muito de o ter na minha equipa.

SD: Já disse que gostava de ter jogadores que assumissem o jogo e partissem para cima do adversário. Que tipo de jogador procura realmente?

ML: Eu quero um tipo de jogador que sinta a camisola, que dê sempre tudo dentro do campo e que seja agressivo na procura do golo. Esse é o tipo de jogador que quero para o Moreirense. Ao mesmo tempo tem de possuir um grande conhecimento do jogo, porque trabalhamos muito essa vertente. Estabelecemos com os jogadores os seus objetivos individuais com os atletas, para além dos coletivos, que visam potenciar as suas capacidades e as suas competências. É nessa linha que trabalhamos todos os dias.

SD: Preocupam-lhe tantas mexidas no plantel?

ML: É evidente que sim, mas isso também não é uma grande preocupação. É antes um grande desafio. Há pessoas que vêm nessa situação um problema, eu vejo como um desafio que vou ter de superar. Agora, preciso de tempo, porque uma equipa não se faz em três semanas de trabalho. Deste plantel só tinha trabalhado com um jogador do plantel, portanto é tudo um desafio novo que está a ser trabalhado.

SD: Que mensagem é que pretende passar aos jogadores?

ML: Que sejam exigentes com eles próprios, que sejam responsáveis, que se dediquem inteiramente à ideia da equipa e do clube e que sejam confiantes porque assim vamos conseguir os nossos objetivos.

SD: Que imagem é que pretende passar aos adeptos?

ML: Eu gosto de uma equipa aguerrida, que deixe tudo em campo, que privilegia a ideia colectiva e, se possível, que pratique bom futebol.

SD: Que estilo de jogo pretende implementar?

ML: Isso dependerá da estratégia para cada jogo e do valor do adversário. A nossa filosofia é uma, mas jogamos contra outra equipa.
Disse que tinha uma equipa que com muitos jogadores da segunda liga mas, ao mesmo tempo, também tinha um grupo forte, com qualidade e rigor.

SD: Continua a definir o grupo assim?

ML: Sim, sim. Faltam de facto dois jogadores que possam vir acrescentar um bocadinho de qualidade. Em vez de ser uma cereja no topo do bolo, seriam duas…

SD: Qual é o feedback que tem recebido da direção em relação a isso?

ML: Estamos a procurar, o perfil está bem delineado e, por isso, é que está a ser um bocadinho difícil. Também temos o factor orçamental que também pode complicar. Às vezes encontramos mas, por esta ou por aquela razão, não foi possível contratar o jogador. Mas eu acredito que a breve trecho haverá surpresas.

SD: Falta experiência no grupo?

ML: Falta, claro. À exceção do João Pedro e do Danielson os jogadores têm pouco conhecimento da primeira liga. Apesar de serem bons jogadores, vêm de realidades e contextos completamente diferentes do nosso e, por isso, e isso implica um processo de adaptação.

SD: Vai ter um início difícil, com Nacional, Braga e FC Porto. Isso pode ser negativo?

ML: Eu olho sempre para as dificuldades como um desafio. Para mim, não é uma dificuldade é um desafio e, os jogadores que não estiverem nesta linha de pensamento normalmente não se dão bem contigo. A única coisa que eu lamento no calendário é não fazer o primeiro jogo em casa, porque eu gosto de jogar o primeiro jogo em casa. Curiosamente, quando faço melhores campeonatos, o primeiro jogo é em casa.

SD: É possível fazer algo como o Estoril fez e chegar aos lugares europeus num curto espaço de tempo?

ML: Neste momento acho isso muito inviável. Se o plantel for reforçado com alguns valores tudo pode acontecer, é sempre uma situação em aberto. Mas o objectivo é sempre a manutenção e fazer o melhor campeonato possível. Seria bom, mas não está em cima da mesa.

SD: Que balanço é que faz da pré-temporada?

ML: A pré-temporada tem duas fases. Uma primeira em que em que eu passei as ideias do que queria aos jogadores: muita resistência psicológica, em que há sempre algum desacreditar. E uma segunda fase em que os resultados do trabalho começam a surgir e os jogadores começam a acreditar. Já passamos a fase da resistência. Estamos na fase do acreditar, mas ainda precisamos de melhorar muito alguns pressupostos e algumas dinâmicas defensivas e ofensivas.

SD: Sente que tem o grupo a trabalhar consigo?

ML: Sim, claramente. Estou satisfeito com a entrega e a dedicação, mas quando chega um treinador novo, com ideias novas demora sempre algum tempo até que adaptem.

SD: Na altura em que o professor Manuel Machado subiu o Moreirense à primeira liga, também foi a estreia dele na primeira liga. Na segunda temporada dele (2003/04) conseguiu o melhor resultado do Moreirense no campeonato. Acha que consegue alcançar o nono lugar dele na primeira temporada?

ML: Poderá ser um objectivo. Neste momento não quero definir metas porque ainda não sei o real valor do plantel. Ainda podem chegar jogadores e só quando fechar o mercado de transferências é que posso definir esse objetivo.

SD: Tem 29 anos de carreira e 49 anos de idade. Acha que chega tarde à primeira liga?

ML: Se formos a ver, em termos de idade talvez sim. Depois de ter treinado o Marco optei por ser adjunto devido a questões familiares e cheguei pensar desistir ada carreira. Mas durante essa fase, a carreira e futebol não era a minha primeira prioridade. Eu gostava de futebol, era dedicado ao futebol, as pessoas reconheciam o meu valor e convidavam-me para adjunto, mas sabiam que a minha entrega nunca seria total. E isso pode ter contribuído para que só chegue nesta idade à primeira liga. No entanto, também é verdade que comecei do nada e fui crescendo. Só significa que a minha carreira foi baseada em trabalho. Comecei do nada, fui crescendo e em três anos estou na primeira liga.

SD: Sente que tem experiência necessária para vingar a este nível?

Claro, para mim não é novidade nenhum a primeira liga. Nunca estive como técnico principal, mas já estive como adjunto várias vezes e isso serviu para ganhar experiência e algum conhecimento do que é necessário.

SD: Tem algum treinador com quem se identifica mais ou como referência?

ML: Sinceramente, não tenho ninguém como referência. Há alguns treinadores do qual vou recolhendo algumas informações e algumas ideias, mas não tenho ninguém como referência. Por exemplo, o Couceiro, o Rui Quinta, o Fabri González ou o Tozé Cerdeira, treinadores com quem trabalhei, aprendi com todos eles. Mas acho que um treinador deve seguir o seu caminho.

SD: A experiência na Turquia (Gaziantepspor) foi proveitosa para si enquanto treinador?

ML: Foi um experiência muito rica nível humano e profissional muito bom. Fiquei com a ideia que o futebol turco tem uma paixão muito ofensiva, mas não têm muitas noções defensivas. É pouco organizado durante o jogo. Mas há um espírito apaixonante. O jogadores gostam muito de atacar, não há muita noção tática e caba por haver mais golos. O último perde com o primeiro e acaba por ser mais emocionante. O conhecimento tático do jogo é a grande diferença para o futebol português.

SD: O que é que o diferencia dos outros treinadores?

ML: Sei muito bem para onde quero ir, sei os passos que tenho que dar para lá chegar e acreditar e ser coerente naquilo que faço.

SD: Como avalia os seus adversários na luta pela manutenção?

ML: Sinceramente, tenho-me concentrado mais no trabalho com a minha equipa e não tenho estado muito preocupado com isso, até porque não vou jogar com eles num futuro muito próximo. Mas penso que também estarão no mesmo patamar que nós, a construir uma equipa com algumas dificuldades e a limar algumas arestas.