Uma das máximas do futebol dita que a “estabilidade é meio caminho andado para o sucesso”. Porém, quando a estabilidade do Belenenses assenta nos frágeis pilares que sustentaram a manutenção da equipa na I Liga somente na derradeira jornada, essa máxima deixa de ter expressão. E esse é o grande risco do Belenenses em 2014/15.

O treinador Lito Vidigal entrou na reta final da temporada transata para salvar a equipa da despromoção, um feito que conseguiu mesmo ao cair do pano. Esse facto era apenas um indício do muito que havia a fazer no defeso que se seguiria para evitar a inquietação de uma nova campanha aflitiva na Liga.

Dois meses e meio depois do fim do campeonato, muito pouco mudou no Belenenses. Poucos reforços, jogadores ainda sem nome na I Liga e uma dúvida generalizada: o que pode valer a nova versão do Belenenses?

Reforços a conta-gotas

O Belenenses tem sido um dos clubes menos movimentados no mercado de transferências, uma situação que o técnico Lito Vidigal já lamentou, pedindo mais jogadores para o plantel. Entre os reforços já assegurados destacam-se os nomes de Rodrigo Dantas, Mailó, Camará, Palmeira ou Fábio Nunes. Uma visão algo curta quando o campeonato desta nova época até cresceu para 18 equipas.

O mercado só fecha no final deste mês, mas a SAD liderada por Rui Pedro Soares ainda não respondeu aos anseios do líder da equipa técnica. À estabilidade numa equipa com poucas soluções junta-se a instabilidade de um plantel formado de forma tardia e já com a competição prestes a arrancar.

Por outro lado, não há a registar muitas saídas da equipa do ano passado, sobressaindo apenas os nomes de Duarte Machado, André Geraldes e Fernando Ferreira como grandes ausentes.

A busca de Lito Vidigal pela afirmação

Nascido e criado numa família de futebolistas, Lito Vidigal só podia ter o futebol como futuro. Estava escrito nos relvados que seria assim.

Natural da Huíla, no Lubango (Angola), Lito Vidigal começou a sua carreira como sénior aos 20 anos n’O Elvas, em 1988/89. Depois de alguns anos nos escalões secundários, o jovem defesa consegue atingir o principal campeonato com o Campomaiorense.

As três temporadas passadas no Alentejo culminaram na transferência em 1995 para o Belenenses, o clube em que 19 anos depois iria assumir o papel de treinador. No Restelo viveu o seu melhor período da carreira de futebolista, representando o emblema da Cruz de Cristo ao longo de sete anos. Saiu em 2002 para a sua época de despedida, jogada com a camisola dos açorianos do Santa Clara.

Quando pendurou as chuteiras e decidiu enveredar pela carreira de treinador, Lito Vidigal regressou à casa de partida. O Elvas foi a base da nova etapa, em 2003/04. Nos anos que se seguiram passou pelo Portosantense, Pontassolense, O Elvas e Ribeirão até chegar em 2008/09 ao Estrela da Amadora. Foi uma referência na queda do clube amadorense e ganhou crédito para saltar para o Portimonense.

De Portimão a Leiria foi um salto de menos de um ano, até que chegou um dos maiores desafios: a seleção do seu país de origem, Angola. Os dois anos à frente dos Palancas Negras foram um período marcante no percurso do treinador, que deu depois novos passos no estrangeiro, nomeadamente no Al Ittihad Tripoli e no AEL Limassol.

Em 2014 surgiu a oferta que não conseguiu recusar. O Belenenses pediu-lhe ajuda para manter o clube na I Liga num momento em que o fantasma da descida já assombrava outra vez. Lito Vidigal respondeu de forma positiva e conseguiu somar os pontos necessários nos derradeiros encontros para salvar os “azuis”. No entanto, o desafio da manutenção nunca está concluído e renova-se para esta nova época. Irá Lito Vidigal salvar o Belenenses uma segunda vez?

Rodrigo Dantas na rampa de lançamento de Miguel Rosa

O médio brasileiro é um dos poucos reforços já assegurados pelo Belenenses neste mercado de transferências que poderá entrar no onze, no qual a estrela é o jovem Miguel Rosa.

Aos 25 anos, Miguel Rosa é já a maior figura do atual plantel do Belenenses. Contratado no ano passado ao Benfica, que o deixou sair após épocas sucessivas a espalhar magia e golos na II Liga, o médio ofensivo tem nos seus pés boa parte do eventual sucesso do Belenenses.

Dotado de boa visão de jogo, garra e grande capacidade de finalização nas aproximações à área adversária, o médio português destacou-se já em 2013/14 com a participação em 23 jogos na I Liga e cinco golos marcados. Números de relevo para a sua primeira época “mais a sério” na primeira divisão e que apenas foram limitados por uma lesão algo prolongada a meio da temporada.

Contudo, depois de prémios sucessivos de melhor jogador da II Liga, falta a Miguel Rosa “explodir” verdadeiramente entre as equipas de topo. O seu potencial augura-lhe voos mais altos, mas estes poderão começar a “escapar” se não se afirmar em definitivo. Nos “azuis do Restelo” está obrigado a crescer esta época.

Como recuperar uma boa impressão

Em 2011/12, o médio Rodrigo Dantas tinha apenas 22 anos e vontade de se afirmar no futebol europeu, depois de uma breve e discreta passagem pelos suecos do Vasteras SK, por empréstimo do Botafogo. O emblema brasileiro emprestou-o novamente, mas desta feita ao Estoril. Na Amoreira conseguiu entrar nas opções de Vinicius Eutrópio e Marco Silva, e participou em 19 jogos na formação que se sagrou então campeã da II Liga.

Porém, o jogador acabou por voltar ao Brasil no final dessa temporada. Volvidos dois anos, Rodrigo Dantas está outra vez em Portugal, mas para jogar agora no Belenenses, onde o seu valor não passou despercebido aquando da primeira passagem por solo nacional.

Proveniente do Bangu, o médio de 24 anos chegou a ser internacional sub-18 pelo Brasil e tem agora nova oportunidade para confirmar o seu potencial. A versatilidade é uma das caraterísticas do jovem brasileiro, já que tanto pode ser utilizado na posição 8 como na posição 10.