Arranca esta sexta-feira mais uma edição da Primeira Liga de Futebol. No Estádio do Dragão, FC Porto e Marítimo dão o pontapé de saída numa época que ser· mais longa do que o habitual, devido ao alargamento da Liga de 16 para 18 clubes. Como consequência, voltamos ao campeonato de 34 jornadas e a ter nove jogos por ronda.

Em termos económicos, o alargamento significa mais despesas para os adeptos, algo que não se traduz em mais receitas para os clubes. Quem o garante é Daniel Sá, diretor do Porto do IPAM - The Marketing School - e especialista em marketing desportivo.

"Ao contrário do que se podia pensar, mais clubes, mais jogos, não significa mais receitas. A média de espectadores na Primeira Liga È de 11 mil por jogo nos últimos seis anos. Os "três grandes" representam cerca de 66 por cento do n˙mero de espectadores. Mais duas equipas pequenas não irão aumentar a média de espectadores. Por outro lado, na questão dos direitos televisivos, as receitas não vão aumentar porque o que aumenta são números de jogos desinteressantes por causa dos resultados, das equipas e do futebol praticado. Os jogos com os "grandes" serão os mesmos. Numa altura em que o mercado de publicidade está em queda, n„o acredito num aumento de receitas de televisão", sublinhou o investigador.

Autor de vários estudos sobre o impacto económico de provas desportivas em Portugal mas também no estrangeiro, o docente explica que o que está errado é a política dos clubes no que ao marketing diz respeito. Para Daniel Sá, os clubes precisam de definir uma estratégia para captar mais espectadores mas também de melhorar os serviços prestados.

"Temos taxas de ocupação de 30 por cento nos estádios, ou seja, 70 por cento dos estádios está vazio. Portugal é um país apaixonado por futebol mas há aqui um problema de marketing: h· pessoas que gostam do produto mas n„o o consomem. H· algo que n„o bate certo. Mas isso acontece devido a uma incapacidade dos clubes de propor esse produto, não só pelo preço mas também de pacotes atrativos que levem as pessoas aos estádios de futebol", apontou Daniel Sá. O investigador aproveitou para deixar alguns conselhos aos clubes profissionais de futebol em Portugal.

“É preciso definir segmentos alvos, tentar captar pessoas que não vão aos estádios e convencê-los a ir, melhorar os serviços. Os grandes concorrentes do futebol em Portugal são o teatro, o cinema e a música. No cinema, por exemplo, pelo mesmo espetáculo de duas horas que é o que dura um filme, paga-se sete ou oito euros. Tens estacionamentos muito acessíveis, pode-se comprar o bilhete pela internet ou mesmo com o telemóvel, tem salas com boas condições, lugar marcado, ou seja, tem um produto de qualidade por um valor muito mais barato que duas horas de futebol. É esse o raciocínio que deve haver por parte dos clubes e o meu conselho é este: “Definam uma estratégia de marketing que envolva não só os preços dos bilhetes mas algo que os permite chegar às pessoas. Há uma ausência de estratégia de marketing. Todos os negócios tÍm de conquistar a atenção dos consumidores e o futebol não tem feito isso", sublinha o diretor do IPAM do Porto.

Um outro fator que tem levado cada vez menos espectadores aos estádios são os horários tardios dos jogos. As tardes futebolísticas desapareceram e hoje em dia os jogos de uma jornada são distribuídos por quatro dias, quase todos à noite. Daniel Sá revela ainda que a "ditadura das televisões não é fácil de contrariar" mas os "clubes deverão gerir as duas coisas: precisam do dinheiro das transmissões televisivas mas não podem tornar-se preguiçosos e desistir de captar espectadores para os estádios", concluiu.

Com a falta de financiamento para o futebol, os ditos “três grandes” do futebol português serão obrigados a recorrer aos jogadores da formação, algo que não tem acontecido até agora e que até pode beneficiar a Seleção portuguesa.

“É difícil acreditar como é que Portugal que forma tão bons treinadores, que têm resultados nas camadas jovens, que apresenta excelentes escolas de formação, e desperdiça tanto talento. Os jovens não têm oportunidades para singrar no futebol da Primeira Liga. Essa aposta já devia ter sido feita há vários anos. Mas neste momento vai ter de o fazer não por estratégia mas por necessidade porque não há dinheiro para comprar jogadores, logo terão de apostar nos jovens, algo que será bom para o futebol português”, concluiu.