Só um nome se comentava nas bancadas do Estádio do Dragão quando Carlos Xistra deu por encerrado o primeiro jogo da Liga: Rúben Neves. Jackson Martínez até tinha acabado de fazer o 2-0 ao cair do pano, mas nem assim o "Cha cha cha" retirou protagonismo ao menino de 17 anos que foi titular de uma equipa candidata ao título e que marcou o primeiro golo da temporada. O médio precisou de apenas 12 minutos para inscrever o seu nome na história da Primeira Liga, com um remate sem hesitação a furar as redes do Marítimo.

Se dúvidas havia sobre a qualidade de Rúben Neves para segurar o lugar 6 do meio-campo, o jovem médio tratou de as dissipar. Exibiu o desarme e posicionamento necessários para substituir Fernando na posição, mas também algo mais: qualidade de passe e visão de jogo. Numa altura em que os "trincos" estritamente destrutivos começam a perder alguma relevância no futebol moderno, Rúben Neves parece encaixar perfeitamente no modelo de médio defensivo construtor. Pensa o jogo, não se precipita a soltar a bola e demonstra uma tranquilidade que normalmente exige muitos anos de competição.

Julen Lopetegui, mantendo a pose diplomática que tem procurado demonstrar, não se quis alongar em relação à estreia marcante de Rúben Neves, mas ainda lhe dedicou algumas palavras: "Está preparado e tem tranquilidade", garantiu o espanhol, que referiu ainda que pondera a hipótese de voltar a usar a dupla Rúben Neves-Casemiro no meio-campo recuado, tal como fez durante pouco menos de 20 minutos.

Curiosamente, dos dois treinadores que disputaram o jogo inaugural da Liga, foi o técnico do Marítimo que acedeu a comentar de forma mais aprofundada a estreia de sonho do jovem médio. "Os jovens precisam de integração competitiva de forma adequada. No caso do Rúben Neves, o adequado é estar a jogar a este nível. Para outros jogadores da sua idade, será estar nas equipas B ou nos juniores. Há que criar espaços competitivos adequados para os jovens talentos portugueses", defendeu.

Para já, o médio está onde deve estar, mas não há tempo para descanso. Para além de Casemiro, que chega ao FC Porto com o respeitável selo do Real Madrid, parece mais que provável que chegue mais um médio de qualidade para competir por um lugar no centro do terreno: enquanto a bola rolava no Dragão, Jordy Clasie foi dado como reforço garantido pelo presidente da associação de adeptos do Feyenoord, clube que o lançou para o futebol. Lopetegui não comentou a transferência, mas é bem conhecida a apreciação que o espanhol tem pelo médio holandês.

É inteiramente discutível se Rúben Neves foi a figura da vitória portista, até porque houve um Brahimi endiabrado, sempre a tentar oferecer algo de novo à partida. Além disse, houve Óliver Torres, que voltou a demonstrar uma imensa qualidade de passe e uma clara capacidade para virar o jogo para o flanco contrário quando necessário. Mas Rúben Neves teve todas as razões para ficar satisfeito com a estreia, coroada com um golo madrugador que talvez nem ele próprio imaginasse ser possível.