O escritor Gonçalo M. Tavares confessou hoje ter aprendido os limites da dor corporal com a prática do futebol, apesar de reconhecer não ter sido "grande jogador" aquando da passagem pelos juniores do Beira-Mar.

O escritor, que falava à margem de um debate subordinado ao tema "Corpo e Imaginação", promovido pela Federação Portuguesa de Futebol e que decorreu na Faculdade de Motricidade Humana, na Cruz Quebrada, Oeiras, salienta que todas as vivências são pedagógicas e fundamentais para o crescimento individual.

"A experiência corporal, quer seja no futebol ou noutra modalidade, está associada à dor e ao prazer. Isso são experiências que passam para outros âmbitos. Nesse sentido, a dor física que sentia num jogo de futebol aos 15 anos é qualquer coisa que é pedagógica, que nos ensina que o corpo é o limite e tudo o resto é insignificante. A dor física e a doença são coisas que se podem aprender com atividades muito simples", disse à agência Lusa.

Para Gonçalo M. Tavares, de 44 anos, o futebol "foi mais uma brincadeira", uma vez que "todos os seres vivos do sexo masculino em Portugal jogaram futebol".

Mais a sério e enquanto docente universitário, o escritor salienta a importância de olhar o futebol sob diversos ângulos e a várias distâncias.

"Temos sempre de fazer uma aproximação para conhecer o objeto de estudo, mas de certa forma temos também de nos afastarmos dele para o ver como um todo e não como um ato isolado. Conhecer é também afastarmo-nos para os vermos de outra perspetiva", sustentou, aquando da intervenção, instantes antes de Maria Clotilde Almeida, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e do sociólogo Nuno Domingos, do Instituto de Ciências Sociais dissertarem sobre futebol.

Gonçalo M. Tavares descreveu também o futebol como uma forma de imaginação, em que a visão espaciotemporal tem um peso significativo como forma de levar a melhor sobre o adversário.

"A imaginação remete-nos para uma imagem, para aquilo que se reflete nos nossos olhos. Um futebolista tem de ver bem, mas nem todos conseguem ter capacidade de ver em antecipação. Isto é, de certa forma, prever o que vai acontecer numa determinada jogada. Quem tiver cegueira de imaginação não consegue ter esta capacidade de antecipação", realçou.

Em conclusão, para este vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores ou do Prémio José Saramago, "o futebol é poesia", pela quantidade de pessoas que dissertam sobre o tema e que no fundo não o praticam.