A polémica abolição dos fundos de investimento no futebol por parte da FIFA tem estado em debate ao longo da tarde de sexta-feira na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Numa primeira sessão dedicada à legalidade e consequências da medida, não faltaram críticas à decisão do organismo que rege o futebol mundial.

"Eu já vim a público dizer que a abolição dos fundos é um ataque direto a Portugal", recordou Artur Fernandes, presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol. "Todas estas medidas têm como objetivo fundamental enfraquecer os campeonatos do Sul da Europa. Eles [FIFA] querem que a Premier League seja 'uma NBA' e nós seremos o desporto universitário".

"É um ataque ao Sul da Europa, principalmente a Portugal e Espanha. Existem fundos de investimento em todas as áreas económicas, só no futebol é que não. É uma coisa lamentável", rematou Artur Fernandes.

Também Emanuel Corceiro Calçada, CEO da Quest, empresa de formação na área do desporto, expressou o seu desagrado e criticou a intransigência demonstrada pela FIFA.

"A FIFA quis cortar o mal pela raiz e nem flexibilidade houve. Os fundos foram um argumento para esta norma, mas a FIFA aproveitou a onda e juntou a esta figura tantas outras a quem deu o nome de 'terceiras partes'. Não são só os fundos que estão em causa, são os contratos com qualquer parte que assine um contrato com um clube que lhe permita receber um valor referente a uma transferência", referiu.

"Quanto mais a FIFA demonstrar esta postura intransigente pior, porque demonstra a sua forma de estar altiva, sem nenhuma flexibilidade. A FIFA legislou com uma postura rígida. Quanto mais rígida for, mais depressa as pessoas vão encontrar soluções para dar a volta à situação", acrescentou.

Duarte Vieira, da RMV & Associados, Sociedade de Advogados com atuação na área do Direito Desportivo, foi também uma voz crítica, defendendo que a FIFA ultrapassou a linha das suas competências.

"Os fundos já eram proibidos em Inglaterra, Alemanha e Bélgica, mas isso eram questões nacionais. Ao fazer esta proibição, a FIFA está a ultrapassar as suas competências. A FIFA é um organismo que tenta garantir a integridade do jogo e não pode interferir numa norma de livre circulação de capitais e de pessoas da União Europeia", salientou.