Na conferência de imprensa de antevisão do encontro com o Moreirense, Julen Lopetegui foi questionado sobre uma "bipolaridade" do FC Porto, com o argumento de que os 'dragões' são infinitamente melhores em casa do que fora. O técnico rejeitou por inteiro a ideia e apontou para a "previsibilidade" da sua equipa em qualquer terreno - no bom sentido, queria dizer, mas será isso realmente uma qualidade?

De acordo com o treinador, o FC Porto assume o jogo tanto em casa como fora e procura manter o ímpeto ofensivo em todas as ocasiões, mas o que parece faltar referir é a dificuldade por que passam os 'dragões' quando, por uma ou outra razão, não conseguem segurar esse domínio do jogo. Muito mais fora do que em casa, sim, surgem desatenções na defesa e erros de concretização que já fizeram tropeçar os 'dragões' em três de quatro jogos disputados fora de portas.

Contra um Moreirense sem nada a perder e cheio de fé, os pecados da equipa 'azul-e-branca' - vestida de castanho - permitiram dois golos em momentos proibidos: no arranque do segundo tempo, trocando as voltas à estratégia de Lopetegui para o que faltava jogar, e em cima do apito final, ficando os 'dragões' sem tempo nem capacidade para reagir.

No golo de Iuri Medeiros há, acima de tudo, mérito do jogador que enverga as cores do Moreirense. O extremo fez uma tabela de grande qualidade com o colega Ramón Cardozo e arrancou por ali fora, mas ninguém o soube acompanhar e abriu-se uma 'auto-estrada' para o primeiro remate a bater Casillas no encontro.

Já no golo ao cair do pano houve um grande cruzamento de Sagna e um cabeceamento eficaz e cheio de alma de André Fontes, mas também nova falha de marcação no centro da defesa portista, quando tudo parecia indicar que o golo inspirado de Corona havia resolvido uma complicada questão.

Os erros acabam por penalizar um FC Porto que, no resto do encontro, soube vestir a pele de grande favorito. Osvaldo ocupou o lugar de Aboubakar e mesmo sem deslumbrar ou sequer marcar mostrou serviço, garra, e esteve por diversas vezes muito perto de festejar o primeiro golo com a camisola dos 'dragões'. André André, o grande herói do duelo com o Benfica, não conseguiu repetir a façanha mas dominou o meio-campo com uma vivacidade inesgotável.

Do outro lado estava uma equipa infinitamente inferior em qualidades individuais - como o prova o penúltimo lugar no campeonato - mas com grande vontade de surpreender um gigante. João Palhinha, Iuri Medeiros e, no final, André Fontes, foram os grandes portadores dessa ambição e foram determinantes para o surpreendente resultado.

Apenas uma vez na presente época, frente ao Arouca, o FC Porto conseguiu vencer longe do Dragão. Empates nos Barreiros, em Kiev e, agora, em Moreira de Cónegos, lançam o alerta. Tal como em 2014/15, o Dragão de Lopetegui tem sido dominador em casa e pecador na estrada.