Cinco meses depois, Jorge Jesus está de regresso ao Estádio da Luz. Agora do outro lado da contenda, o treinador que arriscou trocar o Benfica pelo Sporting é o homem sobre o qual incidem todos os holofotes no dérbi deste domingo (17h00). Um jogo que já era escaldante pelo retorno do técnico ao local onde esteve seis anos da carreira e que ficou ainda mais quente por toda a tensão e polémica que se instalou entre águias e leões nas últimas semanas.

A decisão de mudar para o rival continua a fazer correr muita tinta, apesar dos quatro meses que já se passaram. Há feridas que o tempo tem dificuldade em sarar, mas nem a memória dos adeptos as esquece. Talvez por isso se contem pelos dedos de uma mão as trocas diretas de Benfica para o Sporting na história recente. Jorge Jesus é apenas o nome mais recente numa curta lista onde se incluem os nomes de Arthur John, Paulo Sousa, Pacheco e João Vieira Pinto.

O primeiro golpe aplicado pelo Sporting ao Benfica remonta já ao ano de 1931, quando os leões levaram Arthur John dos encarnados. Após a conquista de dois Campeonatos de Portugal para o Benfica, o técnico britânico assinou pelo Sporting, onde estaria até 1933 mas sem vencer qualquer título. Até ocorrer a troca de Jesus, mais nenhum treinador havia ousado mudar de um rival para o outro de forma direta. Porém, mais oito técnicos orientaram os dois grandes de Lisboa, embora não de forma consecutiva.

A bola passa então para o relvado, com os jogadores a assumirem o protagonismo em 1993. A história guardou este período do futebol português como o célebre ‘Verão Quente’, face à mudança de Paulo Sousa e Pacheco, então com 23 e 26 anos, respetivamente, da Luz para Alvalade. Os dois jogadores alegaram na altura salários em atraso para deixar o Benfica, no que foi considerado um raide fortíssimo do presidente leonino Sousa Cintra.

O plano era ainda mais ambicioso, pois os leões tentaram também desviar João Vieira Pinto, que à última hora acabou por permanecer no Benfica. Curiosamente, tal como no caso de Arthur John, Paulo Sousa e Pacheco não se conseguiram sagrar campeões pelos leões, pois o título de 1993/94 seria conquistado pelo… Benfica.

No entanto, o que não passou de um sonho em 1993 realizou-se mesmo em 2000. João Vieira Pinto, reverenciado então como o ‘menino de ouro’ pelos adeptos encarnados após oito anos de águia ao peito, saiu em litígio com o presidente Vale e Azevedo. Do outro lado da Segunda Circular as portas abriram-se de par em par e desta feita com um final mais feliz para o protagonista da troca. João Vieira Pinto fez uma parceria de eleição com Mário Jardel no ataque leonino e ajudou o Sporting a vencer o seu derradeiro campeonato nacional em 2002.

Foi a última troca da Luz para Alvalade e a primeira com um final ‘feliz’ para os leões. A bola está agora nas mãos de Jorge Jesus.