O FC Porto de Julen Lopetegui tem sido criticado com alguma frequência, quer na comunicação social quer pelos próprios adeptos portistas, mas a equipa que no domingo dominou por completo uma Académica ainda frágil - admita-se - esteve muito longe da tal face mais negra deste Dragão. Avassalador desde o primeiro minuto e durante grande parte do encontro, fez por merecer a vitória e até teve ocasiões para conseguir um resultado mais dilatado.

O meio-campo com dois terços de sangue lusitano - Danilo, Rúben Neves e Herrera - foi a base do domínio portista: a pressão sobre os adversários foi constante, com os dois médios portugueses, em particular, a comandarem na recuperação e nas transições para o ataque. Danilo Pereira esteve em grande e foi considerado o melhor em campo. Abriu o marcador, sim, mas fez bem mais do que isso. Fechou linhas de passe com mestria e esteve assertivo no passe, embora arriscando menos do que o colega Rúben Neves. O 'miúdo de ouro' do Dragão, por outro lado, voltou a exibir a qualidade de passe longo que o faz brilhar: fazia passes diretos aos pés dos companheiros aparentemente com a mesma facilidade com que entregava a bola a colegas de equipa que tinha a dois metros de distância.

O caso de Herrera foi um pouco diferente. O mexicano, o tal que tem andado mais desaparecido do que o habitual nesta temporada, esteve também em bom plano em termos de transporte do jogo, mas o que marca a sua exibição é mesmo o golo: um toque de génio que não foi por acaso, com uma fração de segundo de planeamento para de seguida dar aos adeptos o momento mais mágico do encontro. Ainda assim, acabou por ser o menos assertivo dos três no meio-campo, o que levanta a questão: como será quando o também português André André regressar à boa condição física? Pelo que se tem visto de cada um, um 'miolo' inteiramente português não pode estar fora de hipótese.

Porque se fala no tal golo de calcanhar, também o compatriota Jesús Corona merece elogios. O extremo foi o melhor elemento do ataque portista e esteve bem acima do nível de Brahimi nas decisões que tomava, brilhando na assistência para o toque de Herrera e trocando sempre as voltas a Ofori. E para completar o trio mexicano, houve Miguel Layún. Longe da qualidade técnica exibida por muitos colegas de equipa, o lateral continua a demonstrar-se um caso sério no transporte do jogo para o ataque, tendo ainda somado mais duas assistências na conversão de bolas paradas. Para já, o lateral igualou Gaitán no topo da lista de jogadores com mais passes para golo, somando sete.

Foi então um triunfo convincente dos 'dragões', talvez o mais convincente da atual temporada. Apenas o golo de Rui Pedro, num lance que a equipa de arbitragem devia ter anulado, acaba por manchar de forma ligeira a exibição do FC Porto, que pela primeira vez desde 2013/14 é líder isolado da Liga. Assim passará o Natal e o Ano Novo, numa posição inédita para Julen Lopetegui.

O técnico portista, refira-se ainda, viveu uma situação estranha no encontro. A decisão de lançar Alberto Bueno em vez de André Silva numa altura em que o triunfo já parecia assegurado, levou os adeptos no Dragão a assobiarem de forma veemente o técnico. O avançado espanhol viu, assim, a sua entrada em campo ser rodeada de uma aura negativa que não lhe dizia respeito, mas que nunca deverá ser agradável. O tema foi abordado após o jogo por Lopetegui, que garantiu que as suas decisões são tomadas "por responsabilidade" e não com base na "popularidade", e até por Pinto da Costa, que defendeu que o técnico não está no Porto "para ser simpático".

O que parece certo, porém, é que André Silva acabará por ser aposta, até porque o presidente portista admitiu que a saída de Osvaldo está perto da confirmação, abrindo espaço para o jovem avançado 'made in Porto' no plantel principal.