O Benfica conquistou categoricamente o seu 35.º nacional de futebol, o primeiro ‘tri’ desde 1976/77, graças a 20 vitórias nas últimas 21 jornadas e à capacidade para aguentar a pressão, exercida de todas as formas, pelo rival Sporting.

Com Rui Vitória no lugar de Jorge Jesus, que transitou para os ‘leões’, e uma mudança de paradigma, para uma clara aposta na formação, no Seixal, os ‘encarnados’ tiveram um começo de época muito complicado, criando desconfiança, mas deram uma resposta que ninguém, se calhar, pensava ser possível.

Já foi há muito tempo, e a memória é curta, mas, após oito rondas, o Benfica era oitavo - com menos um jogo, que empataria -, a oito pontos do líder Sporting, que acabava de vencer na Luz por 3-0, depois de já ter superado os ‘encarnados’ na Supertaça. Ainda bateria as ‘águias’ na Taça de Portugal.

Nessa altura, Jesus disse que “era fácil pôr o Rui Vitória deste ‘tamanhinho’ (muito pequeno, pelo forma como colocou os dedos). Estaria, certamente, longe de pensar que o treinador do Benfica ‘cresceria’ e faria ‘crescer’ a sua equipa, ao ponto de ser capaz de ir ‘roubar’ a liderança a Alvalade.

Uma volta depois, de facto, tudo tinha mudado e, à 25.ª jornada, os ‘encarnados’ foram mesmo ‘assaltar’ a liderança ao reduto do Sporting. Um golo do grego Mitroglou, aos 20 minutos, selou o triunfo das ‘águias’, que, na frente, não mais perderam qualquer ponto, só parando no ‘35’.

Nos derradeiros nove jogos, o Benfica teve, porém, de sofrer, e muito, nomeadamente para ganhar no Bessa (resolveu Jonas, aos 90+3 minutos) e em Coimbra e Vila do Conde, onde o mexicano Raúl Jiménez saltou do banco para marcar os golos da vitória, aos 85 e 73, respetivamente.

A penúltima ronda, no reduto do Marítimo, também foi um teste imenso, com a expulsão de Renato Sanches ainda na primeira parte, com o resultado em ‘branco’, mas o Benfica foi ‘grande’ (2-0), para na última ronda, fazer o que, então, já parecia inevitável, bater o Nacional (4-1) e selar o título.

O coletivo, a união do grupo, junto com o sempre poderoso ’12.º jogador’, os adeptos, foram determinantes na conquista do cetro, selado sob o signo do ‘88’, um novo recorde de pontos e o melhor registo de golos desde 1990/91 (89 do Benfica, de Sven-Goran Eriksson, mas em 38 jornadas).

Individualmente, o avançado brasileiro Jonas foi ‘rei’, com 32 golos, um máximo desde o seu compatriota Mário Jardel (42, em 2001/2002), mas muitos outros brilharam, nomeadamente o ‘menino’ Renato Sanches, já vendido ao Bayern Munique.

O ‘85’ foi um dos jogadores que Rui Vitória ‘pescou’ na formação, mas muitos outros foram determinantes, nomeadamente Ederson e Lindelöf, soberbos a compensar as lesões de Júlio César e Luisão. Gonçalo Guedes e Nelson Semedo também estiveram em muito bom plano no início da época, para acabarem a salvar a equipa B, na II Liga.

Apesar das lesões, Gaitán foi também um elemento determinante no título, tal como Jardel, sem esquecer André Almeida, Eliseu, Pizzi, que derivou do centro para a direita, o reforço Mitroglou (19 golos) e Fejsa, sempre que o físico lhe permitiu.

O Benfica venceu, mas, depois do arranque em falso, nunca teve grande margem de manobra, face a um Sporting que acabou em força (oito triunfos), somando uma série de lideranças provisórias, depois de ‘tremer’ entre o final da primeira volta e o início da segunda, o que se veio a revelar fatal.

O avançado argelino Slimini, autor de 27 golos, foi a grande figura dos ‘leões’, juntamente com o internacional luso João Mário, num meio campo com outros elementos determinantes, casos de Adrien, de William, na parte final, e do experiente costa-riquenho Bryan Ruiz, um reforço de grande categoria.

A equipa ‘leonina’, que bateu o seu recorde de pontos (86), pressionou o Benfica dentro do campo e igualmente fora dele, com o presidente Bruno Carvalho, Octávio Machado, Inácio e Jesus a multiplicarem-se em incansáveis declarações, muitas vezes provocações, acusações e queixas, quase diárias.

A estratégia acabou por não resultar, mas, face à proximidade, ao facto de a equipa ter lutado até à última jornada, é provável que continue. Para já, de Alvalade, ninguém deu os parabéns ao campeão, acusado de ganhar injustamente e com a ajuda das arbitragens.

“Nem sempre ganha a melhor equipa, como foi o caso. O Sporting foi claramente a melhor equipa deste campeonato”, disse Jesus, o obreiro dos dois primeiros campeonatos do ‘tri’ do Benfica, após o triunfo dos ‘leões’ em Braga (4-0), com Octávio a juntar uma camisola ‘35’ para Vítor Pereira, pelos árbitros que escolheu para os jogos do tricampeão.

Como prometera Jesus, os ‘leões’ lutaram pelo título, mas, ao contrário do que projetara, os candidatos foram apenas dois, pois o FC Porto cedo se ‘demitiu’ desse objetivo, em mais uma época para esquecer.

Pela primeira vez desde o período entre 1999/2000 e 2001/2002, os ‘dragões’ somaram um terceiro ano consecutivo em ‘branco’, numa época em que, a meio, despediram Julen Lopetegui, que nunca foi ‘querido’ pelos adeptos.

A troca para José Peseiro não trouxe, porém, nada de bom e a equipa acumulou derrotas, acabando a 13 pontos do Sporting e 15 do tricampeão, de nada valendo Casillas, que só ‘brilhou’ na Luz, ou Maxi Pereira, contratado ao Benfica. Pesaram muito as saídas de Jackson, Óliver, Casemiro, Danilo ou Alex Sandro, mais o ‘símbolo’ Ricardo Quaresma.

Como o mexicano Layún como elemento em destaque, o FC Porto também ficou muito à frente do Sporting de Braga, quarto pela segunda época consecutiva, agora sob o comando de Paulo Fonseca, depois de um percurso muito irregular, face à dispersão em várias competições. Brilhou Rafa.

Surpreendente, foi o quinto posto, com a respetiva conquista de um inédito lugar europeu, do Arouca, de Lito Vidigal, o único ‘pequeno’ que bateu o campeão (2-0 em Aveiro, à segunda jornada), triunfo que, então, valeu a liderança.

Por seu lado, o Rio Ave, de Pedro Martins, alcançou o último ‘bilhete’ para a Europa, na última ronda, numa luta ao ‘sprint’ com Paços de Ferreira (sétimo) e Estoril-Praia (oitavo).

Na parte inferior da tabela, enorme destaque para o estreante Tondela, que, sob o comando de Petit, fez uma recuperação sensacional, com apenas uma derrota nos últimos oito jogos e cinco triunfos nos derradeiros sete.

A manutenção do Tondela custou a queda ao União da Madeira, de Norton de Matos, que desceu um ano depois de subir, de nada lhe valendo ter infligido o primeiro desaire ao Sporting (1-0) ou ter ‘empatado’ o Benfica (0-0).

Para a II Liga, foi também a Académica, que, depois de 12 temporadas consecutivas entre os ‘grandes’, muitas a safar-se ‘in-extremis’, não evitou a descida, ao ficar no último lugar, sem um único triunfo fora de Coimbra.

Por seu lado, o Vitória de Setúbal, que não conseguiu vencer nenhum dos últimos 15 jogos, salvou-se na última ronda, enquanto o Boavista, graças a uma ‘grande’ segunda volta, com Erwin Sanchez, conseguiu a manutenção ainda mais cedo.

O Belenenses e o Vitória de Guimarães, com muitos ‘altos e baixos’, raramente estiveram perto da Europa, mas também não sofreram para garantir a permanência, tal como Nacional e Marítimo, que dececionaram. O Moreirense cumpriu.