O FC Porto foi bem-sucedido no sempre difícil assalto ao 'Castelo' do Vitória de Guimarães e manteve bem acesa a luta pelo trono do campeonato português. Numa batalha dura, repleta de luta corpo a corpo e com poucos espaços para grandes investidas, a formação 'azul-e-branca' levou a melhor graças aos tiros certeiros de Soares e Jota e a uma retaguarda tão sólida como tem sido hábito.

O jogo:

As inesperadas mudanças de Nuno Espírito Santo - Herrera e André André nos lugares de Óliver e Corona - lançavam uma de duas hipóteses: ou este era um tiro ao lado do treinador, face à clara redução no nível de criatividade na equipa portista, ou um pragmatismo necessário. Foi mesmo a segunda hipótese. A batalha no 'miolo' do terreno foi constante e as peças da formação 'azul-e-branca' neste setor, mesmo sem se destacarem a nível individual, desempenharam um essencial papel tático.

Sem a verticalidade dos indisponíveis Marega e Hernâni (e, lá está, de Soares), a equipa da casa aceitou disputar a partida a meio-campo e foi em grande parte graças à estratégia de Nuno e à agressividade deste meio-campo portista que os constantes esforços dos vitorianos na fase de construção raramente deram frutos. E quando davam, e a bola se aproximava da baliza portista, a sólida defesa 'azul-e-branca', novamente com a dupla Marcano/Felipe em grande destaque, dificultava mais ainda a tarefa da equipa da casa. As melhores brechas conseguidas pelos vitorianos acabaram por ser no lado direito, com o lateral Bruno Gaspar a exibir iguais doses de vontade e qualidade.

Foi através de remates de meia distância que o V. Guimarães mais ameaçou a baliza de Casillas no primeiro tempo, mas Rafael Martins e Raphinha não acertaram no alvo. Já o FC Porto acabou por conseguir abrir o marcador um pouco contra a corrente do jogo, numa altura em que era o Vitória que estava por cima e os 'dragões' quase só se aproximavam de Douglas em velocidade. Com 36 minutos jogados, Alex Telles cruzou, Herrera entregou a André Silva e uma espécie de remate à reviravolta deu, em jeito de feliz acidente para os portistas, numa assistência para o herói do último clássico. Tiquinho Soares apareceu no sítio certo e abriu o marcador num estádio em que já havia sido muito feliz. O festejo, como seria de esperar, foi tímido.

Entre o golo de Soares e a hora de jogo, a reação do Vitória de Guimarães foi forte e obrigou o FC Porto a elevar ainda mais os níveis de intensidade. E só mesmo com o 'fato macaco' vestido e com um futebol agressivo é que os 'dragões' conseguiram suster as tentativas vitorianas até à altura em que Nuno Espírito Santo decidiu mexer no esquema tático. Entraram Corona e Diogo Jota, o jogo portista tornou-se mais próximo do seu padrão e o FC Porto exibiu de forma mais clara o desejo de 'matar' o jogo com um segundo golo.

Felipe, Danilo e Jota ameaçaram sem sucesso antes de chegar o golo que sentenciou por fim a vitória portista. Já com 85 minutos jogados, Douglas fez uma asneira na reposição de bola, Alex Telles entregou a Jota e o jovem avançado decidiu a partida com uma finalização eficaz. Depois de uma dura batalha, o 'Castelo' estava conquistado pelos 'azuis-e-brancos', que assim garantiam nova aproximação ao líder Benfica.

O momento:

O golo de Soares: o avançado brasileiro já havia feito muito para convencer os adeptos portistas, com um 'bis' na estreia, e logo num clássico diante do Sporting. Como se não bastasse, no segundo jogo, e mesmo defrontando a sua antiga equipa num recinto com potencial para intimidar qualquer adversário, Soares não tremeu e chegou aos três golos pelo FC Porto (já soma 10 no campeonato). Um golo decisivo para os 'dragões', que demonstravam sérias dificuldades na tarefa de assumir as despesas da partida.

Os melhores:

Marcano/Felipe: mais uma vez, o eixo da defesa portista esteve quase imaculado. A dupla hispano-brasileira parece entender-se de olhos fechados e Marcano, em particular, está transfigurado nesta temporada. O central espanhol voltou a estar impecável no posicionamento e na abordagem aos lances e, além disso, voltou a ser a voz de comando da defesa portista, a par de Casillas.

Soares: dois jogos, três golos. Dois num clássico, um diante da sua antiga equipa, num dos terrenos mais difíceis de visitar. O que lhe poderiam pedir mais os adeptos do FC Porto? O avançado brasileiro tem sido eficaz ao máximo e, mais do que isso, impressiona pela determinação. 'Tiquinho' já havia avisado de que para ele não há bolas perdidas. Está a prová-lo.

Bruno Gaspar: algum dos 'grandes' precisa de um lateral-direito para a próxima época? Aqui está uma (boa) solução. 23 anos, fôlego aparentemente interminável, inteligência a atacar e a defender. Soube aproveitar o espaço concedido por Brahimi para se aproximar com frequência de Alex Telles com a bola, criando grandes problemas ao brasileiro. Um belo jogo do defesa, que não merecia a derrota.

Os piores:

Ineficácia vitoriana: não faltou vontade à equipa de Pedro Martins, mas a pólvora seca no ataque deitou tudo a perder para o V. Guimarães. As tentativas de progredir até à baliza de Casillas com a bola controlada terminaram sempre mal e as tentativas de meia distância não obtiveram melhor resultado. Face à frequência com que o V. Guimarães ganhou bolas ao FC Porto durante boa parte do jogo, pedia-se mais clarividência no ataque. Foi o terceiro jogo consecutivo sem marcar para os vitorianos.

Desacatos nas bancadas: o 'Castelo' é muitas vezes terreno hostil para os adversários e, infelizmente, há dias em que essa hostilidade acaba por se transformar em reais desacatos. Nos momentos que antecederam o pontapé de saída houve ameaças entre os adeptos dos dois clubes, insultos e lançamento de cadeiras. As forças policiais tiveram de intervir para serenar minimamente os ânimos.

As reações:

Nuno Espírito Santo: "Vencemos de forma convincente e dominadora"
Pedro Martins: "Eficácia vai subir em breve"
Soares: "Início de sonho? É fruto do meu trabalho"
Celis: "Senti-me bem na estreia"

Curiosidades:

- O V. Guimarães é agora a equipa que mais golos sofreu de Soares. O avançado marcou o seu quarto golo frente à equipa que trocou recentemente pelo FC Porto.

- No século XXI apenas Pena tinha conseguido marcar três golos nos dois jogos de estreia pelo FC Porto na Liga.
- O FC Porto conseguiu pela primeira vez no atual campeonato duas vitórias consecutivas em jogos fora de portas.

- O V. Guimarães somou o terceiro jogo consecutivo sem vencer e sem marcar.