Terminado o ciclo à frente da seleção nacional do Gabão, Jorge Costa encara o seu futuro com optimismo depois de dois anos e meio a trabalhar em África. Em entrevista ao SAPO Desporto, o treinador português classificou de 'gratificante' a experiência de trabalhar no continente africano e garantiu que não teria problemas em voltar a trabalhar como selecionador apesar das especificidades do cargo.

"Trabalhar em África é como se costuma dizer, 'primeiro estranha-se depois entranha-se'", começa por dizer Jorge Costa sobre os dois anos e meio a comandar a seleção do Gabão para depois justificar-se.

"É muito complicado nesta perspectiva: nós fazemos a convocatória numa segunda-feira e só há um voo direto para Libreville que vem de Paris. Muitos dos jogadores não conseguiam apanhar o avião segunda-feira, nem terça-feira. Faziam sete ou oito horas de viagem e muitos chegavam terça-feira ou quarta-feira à noite e o primeiro jogo era logo na sexta-feira", disse Jorge Costa sobre as dificuldades que um selecionador a trabalhar em África tem para juntar todo o grupo de trabalho.

"Quando eles chegavam com sete horas de viagem chegavam cansados, quarta-feira era para recuperar e quinta-feira era véspera de jogo. Em termos de treino e de preparação era muito complicado com a agravante também de que no extremo os jogadores saírem em janeiro com menos dez graus e chegarem a Libreville com 30 graus. Estamos aqui a falar de uma diferença de 40 graus, que é brutal. Não era fácil! Jogávamos sexta-feira, sábado era recuperação, domingo dava para fazer qualquer coisa e segunda-feira era véspera de jogo. A minha maior dificuldade era não ter tempo para criar rotinas e isso é transversal a qualquer selecionador, especialmente das seleções de África e da América do Sul porque as longas viagens são um obstáculo", partilhou Jorge Costa.

No entanto, o antigo selecionador do Gabão não teria qualquer problema em voltar a trabalhar com seleções apesar de todas as dificuldades inerentes ao cargo.

"Sim, claro que voltaria apesar de nos sentirmos muito impotentes no jogo, no sentido de pensarmos coisas como: 'devia ter trabalhado isto', 'devia ter feito mais aquilo', mas não há tempo. É a história do lençol em que ora destapa-se os pés e tapa-se a cabeça, ou destapa-se a cabeça e tapa-se os pés. Não dá para tudo, mas também se cresce como treinador para perceber aquilo que verdadeiramente é mais importante, ou aquilo que pode fazer a diferença no jogo", afirmou Jorge Costa.

"Perante estas condicionantes, apostamos em determinados exercícios, em determinadas dinâmicas que possam fazer a diferença depois no jogo. Sabendo que não podemos fazer tudo há que fazer a aposta certa e também é gratificante porque dá para crescer e evoluir como treinador", frisou o técnico português.

Atualmente sem clube, Jorge Costa está na expectativa para tomar o próximo passo da sua carreira de treinador. Em declarações ao SAPO Desporto revelou que mal saiu do Gabão recebeu propostas, mas que neste momento procura um projecto com que se identifique, apesar de confessar que gostaria de voltar a Portugal.

"Graças a Deus, mal saí do Gabão no dia a seguir já tinha propostas. Tenho tido algumas abordagens, quero voltar e tenho saudades do futebol, mas acima de tudo quero voltar para um projecto concreto, porque projectos há muitos e muitas vezes não passam disso. Portanto quero um projecto no qual eu me identifique, no qual possa ser útil ao clube, e que o clube ache que eu pudesse ser a pessoa correta para esse projecto. Não vou voltar só porque sim", sentenciou Jorge Costa.