Os portugueses André Martins (Olympiacos) e Zeca (Panathinaikos) sabem o que é jogar num campeonato marcado por episódios de violência, como é o grego, mas veem agora com preocupação a expansão deste clima ao futebol português.

Depois de no passado mês de abril se ter assistido a uma escalada da ‘guerra de palavras' entre os dirigentes dos principais clubes nacionais, bem como à morte de um adepto italiano afeto ao Sporting junto do Estádio da Luz, os dois médios lamentam o ambiente instalado no país e alertam para a necessidade de adotar novas medidas em defesa do futebol.

"É de lamentar a violência e as coisas que têm acontecido fora dos relvados, mas espero sinceramente que as pessoas assentem e tenham consciência daquilo que é o futebol para melhorar esse tipo de comportamento", afirmou André Martins, que chegou no início desta época ao campeão helénico.

O antigo jogador do Sporting, de 27 anos, já viu, no decurso desta temporada, o campeonato ser suspenso devido a incidentes violentos. Em declarações à Lusa, André Martins garantiu já estar adaptado a uma nova e "diferente" realidade, explicando que os dérbis entre rivais são mesmo o foco de tensão mais forte.

"As coisas aqui são muito quentes e às vezes até põem em risco a integridade dos jogadores. Pelo que eu sei, aqui sempre foram assim e vão continuar a ser, porque os adeptos são, de facto, fanáticos pelos clubes e nós temos de alguma maneira de nos proteger", assumiu, acrescentando: "Já está enraizado no país. Os adeptos são mesmo assim e vai ser difícil mudar."

Sem conseguir precisar uma causa para os recorrentes incidentes no futebol grego, interrompido por diversas vezes ao longo dos últimos anos, o médio luso defendeu que o papel dos futebolistas é demasiado limitado neste contexto.

"É complicado porque nós, jogadores, treinamos com o intuito de jogar e não nos deixarem fazer aquilo que mais gostamos de fazer é triste. Mas somos profissionais e muitas destas coisas não passam por nós", admitiu.

Instado a comparar a situação grega com o crescente ambiente de crispação em Portugal, André Martins ressalvou diferenças, mas pediu mais bom senso aos dirigentes: "Se calhar os dirigentes que estão do lado de fora, talvez com um bocadinho mais de consciência, ajudariam a melhorar o futebol. É deixar os jogadores e os treinadores desfrutarem dos jogos e não se criarem conflitos."

Visão similar tem Zeca, já mais habituado ao futebol na Grécia, onde defende as cores do Panathinaikos desde 2011/12 e no qual se tornou em 2017 internacional helénico. Para o médio, de 28 anos, a tendência em Portugal revela-se cada vez mais alarmante, apesar da distância.

"Vejo que o futebol em Portugal está a mudar. Há muitos atritos entre clubes, dirigentes e apoiantes, coisa que quando eu estava aí não acontecia", referiu, sublinhando: "Estamos de acordo que alguma coisa tem de mudar. Tem de haver novas medidas, até porque o mais importante é o futebol e que as famílias possam ir aos estádios com os seus filhos."

Confrontado com o impacto que episódios de violência como os que se têm passado acabam por ter nos jogadores, Zeca reconheceu ser uma "situação difícil" e que "condiciona o trabalho" realizado ao longo da semana. Porém, o jogador asseguriu que o panorama atual na Grécia é melhor do que em anos anteriores.

"Não nos vamos acostumando, mas sabemos que é assim e que há pessoas que estão a tentar - e a conseguir - mudar essa situação. Para os jogadores estrangeiros, a primeira impressão é sempre difícil, porque são coisas que nunca viveram antes", observou.

Por fim, Zeca duvidou que se reeditem em Portugal confrontos graves como os que já se registaram em solo grego, mas advertiu: "Vejo que as coisas em Portugal estão a caminhar por um caminho ao qual não estávamos habituados no futebol português."

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