O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Luciano Gonçalves, defendeu hoje um “endurecimento” das medidas punitivas caso a “boa vontade” dos dirigentes seja insuficiente para pacificar a modalidade.

“Acima de tudo, deve existir vontade dos dirigentes, de todos os intervenientes, em alterarmos este paradigma. Serei sempre defensor da prevenção, mas se não existir boa vontade e tiver de ser por repressão, então devemos ter castigos mais penalizadores. Ou fazermos com que os que existem sejam mesmo postos em prática, já que por vezes isso não acontece”, criticou.

Em declarações à Lusa, o dirigente lamentou o atual estado de “guerrilha” no futebol luso, justificando-o em parte pelo facto de a arbitragem ser “, sem qualquer dúvida, uma cortina que serve para a má gestão desportiva e para os insucessos desportivos”.

Convicto de que o presente momento é insustentável, o dirigente considerou fundamental que o Governo e os tribunais tomem “medidas mais penalizadoras” para determinados comportamentos, como os que já resultaram em agressões a árbitros em pleno relvado.

“(Nestes casos) Não é possível as forças policiais assistirem a uma agressão e não deterem logo o agressor. Falamos de crime público. Não podemos ter penas tão banais. Devia haver um endurecimento de penas neste aspeto. O Governo poderá dar um contributo muito importante nesse sentido”, vincou.

Luciano Gonçalves diz ser vital o empenhamento e ação do Governo, mas que vá além da “atitude de preocupação” revelada pelo secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, que louvou.

O dirigente assumiu, no entanto, que os árbitros não estão isentos de responsabilidades do atual momento de crispação na modalidade, pelo que devem assumir uma postura “de humildade e aceitar a crítica construtiva”.

“A arbitragem não pode ficar fora disto e deve estar preparada para a crítica. Se se critica um treinador pelas opções táticas, também se pode criticar com o arbitro pelos seus falhanços. Mas não podemos aceitar comportamentos diferentes. Não pomos em causa a integridade dos jogadores e treinadores quando falham da forma como se coloca causa a integridade, honestidade e honorabilidade dos árbitros. Crítica sim, pôr em causa e levantar suspeitas não. Ao longo dos anos, isso não tem trazido nada de bom ao futebol”, alertou.

O presidente da APAF reconhece que os agentes desportivos têm sugerido contributos importantes para a pacificação do futebol, ressalvando que nada acontecerá “se isso não for passado à prática”.

“Falta-nos passar o que é possível fazer e passar à pratica. O passo seguinte. Se todos os ‘players’ começarmos a pôr em prática o que falamos, definimos e achamos por bem para o desporto, neste caso o futebol”, opinou.

O presidente da APAF espera também que os clubes se “demarquem” dos comentadores quando não se identificam com as suas atituds “que descredibilizam o futebol nos programas desportivos”.

A época está numa fase final, com decisões quanto ao título, descidas e qualificação para as provas europeias, mas Luciano Gonçalves disse acreditar que a “educação e elevação” vão prevalecer entre os agentes desportivos.

“A maior parte dos dirigentes desportivos não se enquadra nestes comportamentos que temos assistido nos últimos tempos. A maioria é claramente respeitadora e zela pelo bem do futebol. Acredito que vamos ter um final de campeonato tranquilo. É o que todos desejamos. Se gostamos tanto do futebol, porque o haveremos de destruir?”, concluiu.