O presidente do Sporting denunciou hoje, em entrevista à Bloomberg, que os sucessos do futebol português são prejudicados por um manto obscuro de suborno e corrupção que só pode ser combatido com intervenção externa e com regulação.

“Há quatro anos que ando a dizer que o Governo precisa de pôr mão nisto. O Governo precisa de dizer: basta!” disse Bruno de Carvalho em declarações à agência de notícias para o mercado financeiro, sediada em Nova Iorque.

A Bloomberg enquadra a entrevista, que decorreu no estádio de Alvalade, com algumas considerações sobre o momento atual do futebol português, ao escrever que nunca esteve tão saudável como agora, em que a sua seleção principal se sagrou campeã europeia, a sua maior estrela, Cristiano

Ronaldo, foi eleito o melhor do mundo e em que os seus clubes arrecadam milhões da venda dos talentos produzidos no país.

Faz ainda uma descrição superficial sobre os três clubes grandes que dominam o futebol e que competem pela popularidade de uma nação de dez milhões de habitantes, na qual é comum ver os seus principais líderes digladiarem-se na praça pública, e não deixa de abordar o recente escândalo das acusações ao Benfica de contactos ilegítimos com árbitros para influenciar os resultados, denunciado pelo FC Porto através da divulgação pública de ‘e-mails’ internos do clube da Luz.

A Bloomberg chega mesmo a recuar ao escândalo de corrupção do ‘Apito Dourado’, recordando que o presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa foi suspenso por dois anos na sequência de uma investigação que não teve natureza criminal.

“É muito fácil roubar dinheiro de um clube. Nem é preciso abrir uma conta bancária, é mesmo fácil”, afirmou Bruno de Carvalho, antes de descrever o processo de pagamentos ilícitos que são feitos.

O presidente do Sporting considera que os clubes devem repensar o montante que gastam em agentes, revelando que, ele próprio, não recorreu a nenhum quando concretizou a maior venda na história do Sporting, um encaixe de 45 milhões de euros pela transferência do jogador João Mário para o Inter de Milão no início da época passada.

Em contraponto, revela que o Benfica encaixou cerca de 80 milhões de euros em vendas de passes de jogadores a época passada, mas pagou 30 milhões a agentes de jogadores, uma verba muito mais alta do que alguma vez foi paga por um clube português para contratar um futebolista.

“É possível manter um bom relacionamento com os agentes desde que estes percebam que é preciso encontrar uma maneira de não comerem o bolo todo", observou Bruno de Carvalho.

A Bloomberg realça ainda a circunstância do Sporting ter formado dois ‘Bolas de Ouro’ como Luís Figo e Cristiano Ronaldo e dez dos jogadores que estiveram na fase final do Euro2016, em França, que consagrou Portugal, pela primeira vez, como campeão europeu.