"Ainda há poucos dias, o Padroense fez 88 anos, conseguiu encher um pavilhão com 1500 associados e simpatizantes e, no final desse jantar, foram atribuídos os prémios aos atletas melhor referenciados. Eu recebi o prémio do melhor atleta de 2009. É por estas coisas que não posso desistir de jogar futebol, é a minha paixão, é o que gosto de fazer", disse à Agência Lusa o médio do Padroense, da zona Norte da II Divisão.

Este prémio é, para Sérgio Nora, durante uma época em que começou sem a regularidade que desejava, um "incentivo para continuar, enquanto as pernas aguentarem": "Quando eu vir que começo a andar para trás, que já não tenho condições, aí mais vale desistir e isso é a lei da vida".

"Nos últimos três jogos já joguei os 90 minutos e consegui mais um golo. Marquei na vitória, por 2-1, sobre o Lourosa, acabei por marcar o nosso segundo golo", sublinhou Sérgio Nora, realçando as dificuldades do emblema de Padrão da Légua "na luta desigual entre amadores e profissionais da manutenção".

Cumprindo a quarta época ao serviço do Padroense, o "quarentão", que apenas vestiu outras duas camisolas na carreira, a do Infesta durante 18 temporadas e a do Café Lisbonense, encontra no técnico Augusto Mata outra razão para a sua longevidade.

"Eu, neste momento, ainda jogo, não é por não ter qualidade porque sinto que ainda tenho, mas se fosse com outro tipo de treinador já tinha desistido. Aliás, eu saí do Infesta com 40 anos e quem é que me foi buscar para o Padroense? Augusto Mata, que é simplesmente o meu treinador há 20 anos…é uma vida! Se fosse com outro, se calhar não jogava, mas ele conhece-me de cima abaixo e sabe até onde posso ir", explicou Sérgio Nora, admitindo ser "a voz do treinador dentro de campo".

É nesse papel que o "quarentão" reconhece a sua importância: "Também já tenho experiência suficiente para dosear o esforço e o Augusto Mata diz sempre para jogar do meio-campo para a frente, que há mais que trabalhem para trás, e os mais jovens vêem um "velhote" de quase 44 anos a correr e sentem que têm de correr a dobrar".

Encontradas as motivações, faltam as justificações para esta longevidade: "Eu comecei muito tarde para o futebol, com 23 anos, não tive camadas jovens, e talvez isso faça com que eu tenha pedal".

"Eu saí da escola aos 13 anos, com 14 fui para o mar, andei por lá até aos 20 e depois meteu-se a tropa. A minha formação foi essa, mas desde pequenino que gosto de futebol e sou um jogador de bairro, porque todos os dias pegava na bola e corria atrás dela, para trás e para a frente", recordou o jogador matosinhense, que completa 44 anos a 24 de Março.

Com o ingresso no Padroense, então nos distritais do Porto, o médio ofensivo deixou o profissionalismo e conciliou a "paixão" com a tampografia, numa fábrica de brindes, que não o impediram de contribuir e celebrar duas subidas de divisão, até à II nacional, sem adormecer nas palestras.

"Fiquei 'sonequinha' há 20 anos, quando ainda era semiprofissional no Infesta. Como pegava às seis da manhã, durante as palestras à noite tinha tendência a adormecer. Mais recentemente, chamavam-me Romário do Padroense, porque no meu primeiro ano no Padroense, os dois melhores marcadores desta divisão distrital eram dois quarentões. Era eu e o Moura, fizemos 50 golos e subimos de divisão. Ele, apesar de ser um ano mais novo, já desistiu há dois anos", recordou.

No clube de Padrão da Légua, concelho de Matosinhos, Sérgio Nora, além de jogar, treina duas vezes por semana as escolinhas, onde alinha o seu filho mais novo, de nove anos, ao passo que a mais velha, de 20 anos, como é mulher, foge a encontros dentro de campo.

"Se o Sérgio não tivesse esta disponibilidade total, o empenho, vontade e vício não resistiria ao passar do tempo. Mas, a forma abnegada e disponível com que encara o jogo faz dele um exemplo e também um caso de inveja para muitos jogadores mais jovens que ele", frisou o presidente do Padroense, em declarações à Lusa.

Germano Pinho assegura que "a idade não se nota no campo" e recusa-se a antever o final da carreira: "Do Sérgio é de esperar tudo, é daquele tipo de jogadores que não podemos adivinhar quanto tempo jogará mais, mas ainda tem força para jogar ao ritmo dos outros, quase sempre e durante praticamente o tempo todo".

Além do médio do Padroense, as competições nacionais de futebol integram outros sete "quarentões", enquanto nas ligas profissionais os mais velhos são os guarda-redes Pedro Roma (Académica), de 39 anos, e Palatsi (Beira-Mar), de 40, na Liga e Liga de Honra, respectivamente.