A participação do CD Trofense na Liga de Honra de futebol está ameaçada para a época 2012/13, confirmou a direção cessante, numa assembleia-geral na qual se registou troca de acusações entre atuais e ex-dirigentes.

O ambiente era tenso este sábado, por volta das 21 horas, no salão nobre da Junta de S. Matinho de Bougado, Concelho da Trofa. Cerca de uma centena de associados reuniram-se em assembleia-geral com a intenção de eleger os corpos sociais para o biénio 2012/14, mas a ausência de lista e a decisão de não continuar da comissão administrativa em funções, liderada por José Leitão, deixaram o clube num vazio diretivo.

Acresceu a este problema a revelação feita por José Leitão, no início da sessão, de que «ontem [sexta-feira] os brasileiros rescindiram o contrato com o CD Trofense. O Lucas [Lucas Santos, investidor da LS Soccer] foi embora triste. Ele não fugiu, fizeram-no fugir», disse o agora ex-presidente do Trofense.

Face ao cenário de vazio diretivo, com a rescisão por mútuo acordo da parceria entre a LS Soccer e o Trofense (se rescisão não tivesse sido amigável o clube teria de pagar 300 mil euros), que inicialmente seria por um período de cinco anos, os associados trofenses ouviram hoje a notícia de que a inscrição na Liga de Honra está «ameaçada», estando a ser equacionada a hipótese de «fechar portas».

«Temos os pressupostos a serem tratados. Temos as declarações de não dívida aos jogadores e à segurança social mas a das Finanças não conseguimos. Queria fazer um acordo, mas estou impedido porque a anterior direção fez e não cumpriu», afirmou José Leitão.

De acordo com o dirigente desportivo, até dia 05 de julho têm de ser pagos cerca de 62 mil euros para que a declaração exigida pela Liga de Clubes possa ser passada pela Administração Tributária.

No entanto a dívida do Trofense ronda os seis milhões de euros, incluindo uma verba de quatro milhões de empréstimos feitos pela anterior direção presidida por Rui Silva.

A comissão administrativa cessante confirmou, ainda, que o seu estádio foi alvo de uma penhora devido à divida de 200 mil euros ao ex-jogador Charles Chad. A pedido de José Leitão, Luís Calmeirão e Vasco Sampaio - «amigos do clube e colaboradores da comissão a titulo pró bono» - conduziram os trabalhos e revelaram que, além de Charles Chad, também os ex-jogadores Milton do Ó e Gégé reclamam verbas de cerca de 118 mil euros e de 33 mil euros, respetivamente, por «falta de cumprimento salarial». «E há ainda a empresa de autocarros, a da relva, todas. Agora tudo aparece. As surpresas estão todas atrás da porta», acabou por intervir José Leitão.

Face às revelações feitas, vários sócios exigiram que fossem identificados os «culpados» da situação atual do clube. «Quem são os coveiros do Trofense?», pediu Eugénio Gomes, ex-presidente do clube e uma das vozes mais criticas da massa associativa.

Na sala encontravam-se ex-diretores que pertenceram à direção de Rui Silva, presidente de 2006 a 2011. Armando Martins e Paulo Melo saíram em defesa do antigo elenco diretivo, rejeitando responsabilidades sobre a má gestão financeira do clube.

«Rui Silva fez um empréstimo de 10 milhões de euros. Já fez um perdão de seis milhões. Devem-lhe quatro milhões. Esta comissão administrativa é que fez uma gestão danosa do clube», acusou Armando Martins.

Em resposta, José Leitão voltou a responsabilizar a direção anterior e reiterou a afirmação de que muitos assuntos foram «ocultados» à comissão administrativa, quando esta entrou em funções em julho de 2011.

À margem desta assembleia-geral, José Leitão revelou que, «por confiar no sentimento trofense de quem o acompanhava», aceitou que «uma pessoa da anterior direção fizesse parte da comissão que tomou posse em 2011 a tratar de todas as questões financeiras do clube». O agora ex-presidente culpou, então, esse ex-dirigente pelo não cumprimento do acordo com as Finanças para pagamento das dívidas, adiantando que o acordo foi feito a 22 de setembro de 2011 e esse membro da comissão se demitiu em outubro de 2011.

«Não digo nomes mas é fácil lá chegar. Eramos três e eu acabei sozinho. Eramos três e o Cerejo não tem culpa [à data de constituição da comissão administrativa José Leitão foi conduzido no cargo ao lado de Paulo Cerejo e Paulo Melo]. Não digo o nome em si. Não pronuncio o nome desse cavalheiro, mas é fácil perceber quem fez acordos e não cumpriu e o clube está neste estado e não sei se haverá inscrição porque não há dinheiro. Vou embora. O meu inferno acaba hoje às 24 horas. Presidente, nunca mais», disse José Leitão que esteve à frente do clube da Trofa durante 11 anos, de 1996 a 2006, e na época 2011/12.

No final da sessão, por iniciativa de Luís Calmeirão, foi pedido aos associados que reúnam uma nova comissão. O advogado trofense conseguiu juntar sete nomes: Tomé Carvalho, Eugénio Gomes, Ricardo Santos, Bruno Ferreira, Vasco Sampaio, João de Castro Gomes e Alfredo Gomes.

A agência Lusa tentou obter uma reação às acusações feitas durante a assembleia junto dos anteriores dirigentes do clube, mas Rui Silva manteve-se incontactável e Armando Martins e Paulo Melo abandonaram a reunião de imediato, sem quererem falar aos jornalistas.

O início da pré-epoca do Trofense mantém-se por definir. Seria a LS Soccer a responsável pela constituição do plantel profissional, pelo que, conforme confirmou José Leitão à Lusa, não está em curso qualquer preparação de equipa para a época 2012/13.