O plano de recuperação do Santa Clara foi aprovado pelo Banif, maior credor do clube com praticamente 80 por cento dos créditos, adiantou à agência Lusa Nuno Goulart, representante legal do Banif.

"Confirmo que o Banif deu entrada do requerimento [no Tirbunal de Ponta Delgada] por escrito a aprovar o plano de insolvência", afirmou Nuno Goulart.

Na Assembleia de credores realizada na terça-feira no tribunal de Ponta Delgada o juiz deu um prazo de 10 dias para que os credores enviassem a sua votação por escrito acerca do Plano Especial de Revitalização do Santa Clara.

"Agora cabe à SAD dar sequência ao Plano, designadamente a um dos itens que lá está que é aprovar e formalizar a assunção da dívida dos tais três milhões de euros até ao dia 31 deste mês", diz o advogado.

Depois desta data o juiz terá 10 dias para promulgar o Plano de Recuperação e confirmar se tudo está em conformidade com a lei, nomeadamente, no que toca a alterações de estatutos que sugerem que o presidente Mário Batista permaneça em funções durante dez anos e sem qualquer ato eleitoral, o que suscita duvidas entre históricos e dirigentes do clube.

Dionísio Leite foi presidente do Clube Desportivo Santa Clara durante mais de vinte anos, foi presidente da Assembleia-geral e continua como sócio até hoje, defende "medidas excecionais para casos excecionais" e se for essa a solução para salvar o clube subscreve.

"Um presidente que está à frente de um clube durante dez anos, sem prestar contas e sem se sujeitar a eleições é um caso único, não sei se haverá mais algum caso no país e no mundo, mas se se necessita dessas circunstâncias não sou eu que me vou opor. Claro que fico triste por ver que o clube nunca mais terá espírito democrático que sempre o norteou mesmo nos tempos em que não havia democracia em Portugal", disse.

Outro histórico do clube açoriano, João Pacheco de Melo, sócio n.º 36, membro do conselho santaclarense e presidente da Fundação Campo Açores reagiu com "surpresa" a esta possibilidade e não concorda que o Santa Clara esteja dez anos sem eleições.

"Pessoalmente não vejo isso com bons olhos, concentração de autoridade e de gestão numa única pessoa nunca é bom. Mantenho que é preciso muito rigor, transparência e zelo na gestão do Santa Clara, mas de forma nenhuma isso se consegue com uma gestão de cabeça única, há outras formas de fazer isso", admite.

Paulino Pavão, também antigo presidente do Santa Clara na altura em que o clube esteve na primeira divisão, entende que os estatutos que definem que os membros dos órgãos sociais não poderão cumprir mais de três mandatos seguidos devem ser alterados, mas sempre com a aprovação dos sócios.

"Acho que o Mário Batista poderia ficar por mais dez ou vinte anos se fosse a vontade dos sócios, mas nunca por uma questão de imposição. Acho que os sócios têm todo o direito e dever de escolher o presidente que querem para gerir o clube", sublinhou.