A confiança expressa pela seleção de Cabo Verde nos três dias da estada nos Camarões e o “repasto” servido no estádio Ahidjo Ahmado – “camarão ao almoço” – só podia dar CAN para uns “tubarões” de dentes afiados.   

E, traço marcante, com a qualificação para a Copa de África das Nações (CAN) começa uma “nova história” no futebol cabo-verdiano, até porque nunca uma derrota (2-1) soube tão bem a uma seleção pronta para altos voos.

Por falar em voo, o de regresso à casa da seleção de Cabo Verde, um dos 16 finalistas da Copa de África das Nações da África do Sul, foi, no mínimo, atípico.

É certo que avião e tripulação permaneceram nos Camarões, mas a qualificação mudou tudo: a seleção, literalmente, saiu do estádio minutos após o apito final do egípcio Greisha Gihed para a pista do aeroporto internacional de Yaoundé.

Cumpridas as formalidades alfandegárias, ao contrário, pois a seleção, agora, não encontrou “barreiras” por causa dos vistos, foi entrar no avião e … partir para uma viagem de quatro horas e meia até Dakar. A rota inicial. Já lá vou.

Antes, a justificação pela circunstância atípica do voo que começou com as primeiras palavras da chefe de cabine da TACV, Soraia, a congratular-se, em nome da tripulação, com a vitória da seleção.

Só que a comunicação começou por ser feita em português, mas os passageiros, eufóricos, não estavam para meias medidas: “ojê no krê tud na krioulo” (hoje queremos ouvir as mensagens na língua cabo-verdiana), lançou uma voz que chegou da parte traseira do avião.

Rapidamente, “língua dobrada” e uma sonora salva de palma. O krioulo passa a dominar em todas as fases do voo, exceto quando o comandante Kitana Cabral, já com o avião em movimento, endereçou votos, em português, de felicitações pelo feito alcançado pela seleção de futebol.

«Estamos todos orgulhosos e, mais uma vez, as modalidades do futebol e do basquetebol vão trazer mais dores de cabeça ao Governo, com a qualificação para as provas mais importantes do continente», lançou o comandante, que é também presidente da Federação Cabo-verdiana de Basquetebol (FCB).

«Festejem à vontade, neste momento não posso fazê-lo, mas quando chegarmos à Cidade da Praia faço a minha festa», acrescentou. OK, comandante.

Take-off em Yaoundé às 00h00 locais, menos duas horas em Cabo Verde, debaixo de chuva, relâmpagos e trovoadas. O que importa, se Cabo Verde está no CAN? Por isso há música e champanhe na primeira hora e 25 minutos de voo.

Trinta e um minutos depois soa nos altifalantes a voz grossa do comandante Kitana: «Por razões técnicas, o voo será desviado para Abidjan». Ninguém esboça, sequer reação, pois com a segurança não se brinca.

Só que, não são explicados aos passageiros os motivos do desvio e, com a vontade de chegar à Cabo Verde, de onde já chegam notícias de “festa rija”, não rima com escala imprevista de duas horas e trinta e oito minutos.

Daqui para a frente foi voar, primeiro até Dakar para deixar os 30 “bravos do pelotão”, os tais que “gritaram no estádio”, tocaram tambor e, ao fim ao cabo, disseram aos restante 39.970 espectadores que Cabo Verde é esta força que não se intimida, em casa ou fora, mesmo que o adversário chame, à última hora, um camarão da espécie Eto’o, facilmente tragável aos dentes dos “tubarões” Nando e companhia.

A última “manga” da viagem de regresso à casa, ou seja, Dakar – Praia, durou cerca de 60 minutos, mas, mesmo assim, às 06:00 horas havia ainda resistentes à espera da seleção.
E assim de constrói a história do desporto cabo-verdiano.