“O Mundial era sinónimo de revolta. Queríamos dar seguimento a Riade e tínhamos a noção de que o futebol português estava vedado aos jovens. Eu consegui chegar aos seniores do Sporting, mas alguns nem sequer tiveram oportunidade”, explicou Paulo Torres, o melhor marcador luso na fase final da edição de 1991.

O antigo “pontapé canhão” da equipa das “quinas” e atual treinador do Torrense considera que, após Portugal ter conquistado um primeiro título mundial dois anos antes na capital da Arábia Saudita, esta foi uma “uma geração que marcou uma era”.

Também João Oliveira Pinto, agora empresário do ramo imobiliário, encara esta conquista como um “ponto de viragem para os jogadores portugueses”, permitindo a abertura de “portas para o estrangeiro, quando só Futre e Rui Barros estavam fora”.

“Nem todos conseguiram ou tiveram oportunidades, mas não tenho dúvidas de que constam nas páginas douradas do futebol português”, frisou Brassard, actual treinador de guarda-redes das selecções lusas, recuperando a eterna questão das portas que se abrem, ou não, aos jovens jogadores.

Apesar de cobiçar o trajecto de Figo e Rui Costa, o agente FIFA Gil considera que “cada jogador teve o rumo que lhe estava destinado”.

“Acho que o sucesso individual de alguns jogadores ficou a dever-se ao sucesso colectivo e eu faço parte dele. Mas, o Luís Miguel teve azar na sua carreira e o Toni teve bons momentos, mas está onde está porque o destino assim quis”, reconheceu Gil.

Sem culpar o destino, João Oliveira Pinto avalia positivamente o seu percurso, com “dez anos na I Divisão” e a “correr as divisões todas”, até ao ponto final na carreira no Alfarim, depois do Sesimbra: “Podia ter sido melhor, mas já assim foi bom. Se calhar também me faltou confiança”.

Invariáveis são as recordações de uma equipa que “estava junta desde os 15 anos”, sob o comando de Carlos Queiroz, que cedo os advertiu de que estavam a trabalhar para ser campeões do Mundo, tendo Paulo Torres destacado a “fantástica metodologia de treino do professor”.

“A vitória foi o corolário de muito trabalho e foi conseguida diante de uma equipa fortíssima, que nem sequer foi muito valorizada pelos portugueses, mas dificultou imenso”, refere o actual técnico do Torreense.

A final com o Brasil, decidida nas grandes penalidades, foi “o momento mais marcante”, segundo o antigo guarda-redes, que então defendeu o “penalti” de Marquinhos.

“Começámos a viver a final três dias antes, quando víamos, nos treinos no Estádio da Luz, as filas intermináveis para comprar bilhetes. Recordo-me de que a ida para o estádio foi semelhante à que a selecção viveu no Euro2004, com pessoas em todo o lado, com um helicóptero a seguir-nos”, sublinhou Paulo Torres, ainda “arrepiado” com estas memórias.

Brassard concorda, mas assinala a diferença: “Em alguns casos consegui viver situações comuns no Euro2004 [quando fazia parte da equipa técnica nacional], embora numa ocasião tivéssemos chegado ao título de campeão do Mundo e no outro perdido a final”.

“É curioso que, sempre que falo nisso, toda a gente diz que lá estava e que viveu a final intensamente. Eram muito mais do que 127 mil”, frisou João Oliveira Pinto, enquanto Gil recorda o coroar do trabalho da dupla Carlos Queiroz/Nelo Vingada, com todo o estádio a gritar por Portugal.

Selado o triunfo, Paulo Torres lembra-se do “ambiente fantástico, em que até o Eusébio esteve no balneário a saltar como um miúdo”, durante uns festejos inicialmente fugazes, “porque houve logo o jantar da FIFA”, mas que, segundo João Oliveira Pinto, se prolongaram no tempo: “Uns dias depois, nove dos campeões fomos para Ibiza festejar à grande... Foi giro”.

Antes, já Gil, Cao e Toni tinham “festejado de maneira diferente”, com um périplo por “três discotecas africanas de Lisboa”.

“Lembro-me como se fosse hoje. Apanhámos um táxi na Segunda Circular e o taxista levou-nos e recusou-se a receber, dizendo que era uma prenda por termos sido campeões do Mundo”, rematou Gil, cuja carreira foi prejudicada por um “arrancamento de ligamentos no tornozelo”.