Na conferência de imprensa final do estágio da selecção portuguesa Sub-21, que decorre em Cantanhede, o técnico nacional lembrou que na Liga de futebol, na época passada, mais de 70 por cento dos treinadores foram despedidos, aludindo à pressão existente para conseguirem resultados imediatos.

Rui Jorge disse que um jogador que passa do futebol de formação, das classes de Sub-20 ou Sub-21, para o futebol sénior, tem «claramente um deficit de qualidade», mas «muitas vezes não há tempo, ou o treinador pensa que não tem tempo, para continuar a fazer o crescimento do jogador».

De acordo com o técnico nacional, «o treinador precisa de resultados imediatos, porque sabe que hoje em dia em Portugal, se não ganhar vai ter de sair».

Acrescentou que os treinadores optam por «outras soluções», que à partida lhe darão «mais garantias», mas não permitem o «continuar do crescimento» dos jovens oriundos da formação.

Revelou que na época 95/96, há 15 anos, a percentagem de treinadores despedidos em 18 equipas da principal Liga situava-se nos 33 por cento, enquanto o ano passado essa percentagem foi de 73 por cento. «Este ano já devemos ir na mesma média, já foram 11 ou 12 treinadores despedidos», sublinhou Rui Jorge.

«Isto leva a que o treinador queira resultado imediato. E, muitas vezes, não tem essa, não lhe chamo coragem, porque é a vida dele de que se trata, mas pegar em alguém que ele sabe está incompleto, que precisa de tempo para mostrar algum rendimento, os treinadores muitas vezes não fazem essas opções», argumentou.

Rui Jorge considera que esse é «um dos motivos» pelo qual não há mais jogadores portugueses jovens no futebol profissional em Portugal.

Outros dados, segundo Rui Jorge, revelam que o número de jogadores estrangeiros actualmente em Portugal, na Liga, é maior do que os portugueses, quando «há uns anos a percentagem de jogadores portugueses era claramente superior».

Rui Jorge sublinhou estar a falar enquanto técnico nacional com a responsabilidade que detém em escolher jogadores para representarem a selecção de Sub-21, defendendo que a situação actual tem de ser alterada.

«Têm de existir maneiras de contornar a situação para a qual estamos a caminhar, inverter este sentido», disse.

O técnico abordou ainda a questão do Campeonato Nacional de Juniores, onde nas equipas do FC Porto, Sporting e Benfica, «os clubes que normalmente alimentam as selecções jovens», actuam 22 jogadores estrangeiros.

«Da perspectiva de quem tem de escolher jogadores para a selecção nacional, torna a coisa menos simples. Vão continuar a haver jogadores, isso não há dúvida, jogadores de qualidade, mas…», declarou.