José Mourinho pensa que os bons jogadores acabam sempre por se afirmar e que em Portugal não há uma linha de pensamento contra os futebolistas portugueses, apesar de os principais clubes estarem a apostar principalmente em estrangeiros.

«Sinceramente, não sei», respondeu o treinador do Real Madrid, em entrevista à agência Lusa, quando questionado sobre que consequências esta política podia ter para os clubes e seleções nacionais e médio prazo.

O técnico campeão europeu em 2004 e 2010, pelo FC Porto e pelo Inter de Milão, acredita «que os jogadores de qualidade são como o azeite, vêm sempre ao de cima», e que em Portugal «ninguém está dramaticamente envolvido numa linha de pensamento que é ‘portugueses não, estrangeiros sim’, ou vice-versa».

Segundo Mourinho, os jogadores da seleção portuguesa que foram vice-campeões no Mundial de Sub-20 deste ano «foram uns privilegiados» por irem para à Colômbia sem que o país tivesse grandes expetativas sobre o seu desempenho.

«São as condições perfeitas para miúdos de 19/20 anos irem para a competição», afirmou Mourinho, sugerindo que se repare quais são as equipas que normalmente são campeãs do Mundo de Sub-20 ou Sub-18, «com a exceção do Brasil e da Argentina, que depois como seniores também são seleções que jogam para ganhar campeonatos do Mundo».

O técnico lembrou que, «para muitos, a formação dos jogadores e a experiência que os jogadores vão ganhando é mais importante do que um título, que só é importante para quem ganha» e «para quem não ganha não é importante».

«Agora, sim, a equipa era bem organizada, bem trabalhada, havia jogadores com potencial. Não digo hoje, não digo amanhã, mas, seguindo um percurso normal, há ali jogadores que devem ser, um dia, jogadores de seleção nacional», concluiu.

Mourinho admite, no entanto, difícil um futebolista da formação afirmar-se diretamente num clube e aplaude a política adotada pelo Real Madrid, que, quando vende um jogador da “cantera”, coloca nos contratos de transferência uma «opção de ‘recompra’» que pode ser exercida «durante três, quatro, cinco anos».

«No fundo, a diferença entre o preço a que vendemos e o preço a que recompramos não é diferente de nós pagarmos uma pequena quantidade ao clube que recebeu o jogador e ajudou a formar o jogador», sublinhou.

Foi isso que aconteceu com Callejón, que o Real Madrid vendeu ao Espanyol de Barcelona “por dois e meio, três” milhões de euros e que passados dois anos o recuperou “por quatro e meio”. Foi esse também o negócio feito com o Benfica para a transferência do internacional Sub-20 espanhol Rodrigo.

«Não é como aquela equipa em que o jogador saiu livre e que passados três ou quatro anos o compraram por 40 milhões e dizem que o jogador é ‘canterano’», frisou.

Para Mourinho, o importante é «que os clubes não percam o controlo sobre os jogadores» quando estes, aos 21 anos, deixam a equipa ‘B’ para jogarem a outro nível, «porque os jogadores podem perfeitamente, jogando, ter outro tipo de crescimento».