Desde a contratação de Scolari, em 2003 (esteve no comando de Portugal até 2008), a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem apostado numa nova estratégia privilegiando contratos a longo prazo e promovendo a estabilidade dos timoneiros na formação A. Paulo Bento é mais um caso. Assumiu as funções de treinador da Seleção portuguesa de futebol, tendo sido apresentado a 21 de setembro de 2010, e mantém-se no cargo até à atualidade.

No entanto, a estratégia da FPF poderá facilmente cair por terra, dado os recentes maus resultados. Com o público cada vez mais distante da formação das "quinas" – no passado domingo viram-se lenços brancos nas bancadas do Municipal de Aveiro -, Paulo Bento poderá ser vítima das suas próprias opções. A derrota frente à Albânia, algo que nunca havia acontecido, poderá ser o fim da linha para o técnico, ainda mais quando se falava insistentemente neste como o "jogo da reconciliação".

O próprio treinador não excluiu a hipótese no final do encontro, mas recusou-se a discutir o tema na conferência de imprensa. Com ventos a empurrar Paulo Bento para fora do comando técnico nacional, reveja aqui algumas das demissões mais polémicas dos últimos vinte anos:

Carlos Queiroz (2008-2010)

Regressou ao comando técnico da seleção a 11 de julho de 2008 para substituir Scolari, que saiu para o Chelsea, com o objetivo de qualificar a seleção para o Mundial de 2010, na África do Sul. Os primeiros dois resultados obtidos no comando técnico foram promissores (goleada num particular frente às Ilhas Faroé (5-0) e vitória sobre Malta por 4-0, na primeiro jornada de apuramento), mas logo depois foi derrotado pela Dinamarca.

Portugal acabou em segundo lugar no grupo 1, tendo de disputar o play-off de acesso ao Mundial diante da Bósnia (vitória por 2-0 no conjunto das duas mãos). Na África do Sul, alcançou dois empates a zero (Costa do Marfim e Brasil) e uma vitória por 7-0 frente à Coreia do Norte que deram o segundo lugar do grupo G e a consequente passagem aos "oitavos".

É eliminado pela Espanha nos oitavos-de-final (1-0) – nesse jogo desentendeu-se com Cristiano Ronaldo ainda durante a partida devido à substituição de Hugo Almeida por Danny, ficando conhecida a frase "assim não vamos lá" dita ao treinador em pleno relvado. No final da partida, na sua passagem pela zona mista, o extremo não escondeu o descontentamento com o treinador com quem trabalhou também no Manchester United respondendo de forma seca quando incitado a explicar a derrota frente à "Roja": "O que é que eu tenho de explicar? Falem com o Carlos Queiroz!".

O treinador nascido em Moçambique saiu da seleção após enfrentar um processo disciplinar devido a um incidente ocorrido durante o estágio da seleção na Covilhã, ao perturbar e ofender os médicos destacados pelo ADOP (Autoridade Antidopagem de Portugal) que surgiram na cidade beirã.

O treinador acabou condenado pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a pagar uma multa de 1000€ e ficou suspenso do cargo de selecionador por um mês. Queiroz acabou mesmo absolvido pelo Conselho de Justiça da FPF e pelo TAS (Tribunal Arbitral do Desporto), mas acertou a rescisão de contrato a 9 de Setembro de 2010, tendo ficado no ar a ideia de que todo o processo foi criado para conseguir o seu despedimento por "justa causa".

António Oliveira (2000-2002)

Depois de uma primeira passagem (setembro de 1994 a junho de 1996) pelo cargo de selecionador nacional com relativo sucesso, António Oliveira voltaria ao comando técnico da seleção em 2000, após quase dois anos sem trabalhar. Oliveira conseguiu a qualificação para o Mundial na Coreia do Sul e no Japão (2002), tendo ficado em primeiro lugar no seu grupo com os mesmos 24 pontos da República da Irlanda, mas com mais golos marcados (33 contra 23). Este feito apaziguou um pouco as hostes contestatárias, uma vez que Portugal já não participava numa fase final de um Campeonato do Mundo desde 1986 (México).

O primeiro caso foi a convocatória, onde estava Daniel Kenedy – a grande surpresa - que teve de ser "desconvocado" devido um caso de doping. Durante a competição, foram vários os casos que foram sucedendo, com a agressão de João Pinto ao árbitro Angel Sanchez (nunca mais vestiria a camisola da seleção), durante a partida com a Coreia do Sul e ainda antes da meia hora de jogo. Portugal acabaria por perder essa partida por 1-0 e diria adeus a um Mundial onde os problemas internos entre a estrutura técnica e direção parecem ter criado demasiada instabilidade.

No seguimento da "chicotada", o antigo treinador e agora comentador colocou um processo contra a Federação Portuguesa de Futebol (despedimento sem justa causa) e ao antigo vice-presidente, António Boronha, por ter proferido acusações que denegriam a sua imagem, tendo ganho o caso no Tribunal do Trabalho e sendo indemnizado em 15 mil euros pela FPF.

Humberto Coelho (1998-2000)

A escolha de Humberto Coelho para treinar a Seleção de Portugal foi uma surpresa, no entanto facilmente se percebeu que foi uma boa aposta, tendo em conta a caminhada que Portugal fez durante o Euro 2000, o primeiro sediado por dois países: Bélgica e Holanda.

Mas vamos por partes. O apuramento de Portugal foi complicado sendo que a seleção comandada por Luís Figo, Rui Costa, Jorge Costa e Vítor Baía, seguiu para a fase final no segundo lugar (atrás da Roménia) de um grupo que era composto por Hungria, Roménia, Eslováquia, Azerbaijão e Liechtenstein.

No grupo A da fase final, Portugal ficou em primeiro lugar ao vencer a Alemanha, no célebre jogo em que Sérgio Conceição marcou os três golos com que os germânicos foram derrotados. A equipa das quinas apenas foi eliminada nas “meias” pela França, através de um penálti convertido por Zidane, numa altura em que valia o golo de ouro.

Apesar disso, Humberto Coelho não continuou no comando técnico, tendo surgido recentemente a revelação que o técnico havia feito um ultimato ao então presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Gilberto Madaíl, devido aos prémios de jogo da equipa. Antes de partir para o Campeonato da Europa, o técnico assegurou ao líder da FPF que ninguém viajaria para a Holanda caso não fossem pagos os prémios, algo a que Madaíl acedeu. Esta situação poderá estar na base da não renovação do treinador após ter atingido as meias-finais.

Artur Jorge (1996-1997)

Artur Jorge foi outro técnico que teve uma passagem inglória pelo camando técnico da seleção, ao não conseguir apurar a turma das “quinas” para o Campeonato do Mundo de 1998, realizado em França. Num período em que a seleção apresentava já jovens valores como Figo, Rui Costa, João Pinto ou Pauleta o terceiro lugar no grupo 9 da fase de apuramento, atrás da Alemanha (1.ª) e da Ucrânia (2.ª), não era satisfatório. Deste modo, o treinador acabou por ser despedido ingloriamente naquela que era a sua segunda passagem pelo comando técnico da seleção portuguesa.

Mas a qualificação não foi o único problema de Artur Jorge. O ano que passou no comando técnico da formação lusa, ficou marcado por uma agressão de Sá Pinto ao técnico, o que acabou por fragilizar a sua situação no seio do grupo e gerou algum desconforto. O futebolista não gostou de não ser convocado para a partida com a Irlanda do Norte de apuramento para o Campeonato do Mundo, tendo-se dirigido ao Estádio do Jamor para confrontar o técnico que agora tem 68 anos.

O antigo avançado do Sporting esperou por Artur Jorge no parque de estacionamento e quando este saiu agrediu-o fisicamente. O agora treinador de 41 anos acabou suspenso por um ano, embora nunca mais tenha representado a as cores nacionais.

Carlos Queiroz (1991-1993)

Na primeira passagem pela formação A de Portugal, Carlos Queiroz não teve tanto sucesso como se esperava, tendo sido considerada uma prestação medíocre. Portugal não granjeou o bilhete para o Campeonato do Mundo de 1994, tendo ficado em terceiro lugar no grupo 1, atrás de Itália e Suíça, por esta ordem, tendo desiludido ao obter empates diante da Escócia (0-0), na primeira jornada, e com a Suíça (1-1), que viria a ficar no segundo lugar.

As derrotas (1-3 e 1-0) com a formação transalpina – Malta e Estónia completavam o grupo - embora não tenham sido escandalosas também impediram os portugueses de assegurarem uma posição mais confortável. Esta situação decidiria o despedimento de Queiroz após ter falhado os objetivos.

José Torres (1984-1986)

Na segunda participação portuguesa num mundial, no México, 1986, depois de sucesso em Inglaterra, vinte anos antes, o grupo de convocados viveu o momento mais negro da sua história desportiva, quando se deu o “caso Saltillo”.

Depois das expectativas criadas com o terceiro lugar conquistado em 1966, os portugueses eram novamente vistos como uma das equipas que poderiam surpreender. Nada mais falso. Na fase de qualificação, o segundo lugar assegurado atrás da Alemanha (vitória fora de casa por 1-0 e derrota em casa por 2-1), de Rudi Völler ou Lothar Matthäus, não foi surpresa. Assegurar a qualificação era o objetivo principal, numa campanha muito irregular e só a vitória diante da Alemanha (a primeira vez que perdeu um jogo em casa desde 1945), num golo marcado por Carlos Manuel, na Mercedes-Benz Arena, em Estugarda, garantiu o apuramento para a fase final da competição.

Ainda na convocatória, a preparação com vista à competição não trouxe resultados positivos. A ausência da convocatória de atletas como Jordão e Manuel Fernandes por opção de José Torres e o facto de Veloso ter ficado de fora depois de um controlo antidoping positivo deixaram o grupo insatisfeito. A revolta instalou-se na comitiva e a viagem para o México revelou-se atribulada, com um percurso demasiado longo: Lisboa - Frankfurt - Dallas-Cidade do México-Monterrey–Saltillo.

Na fase final é que se deu o caso de revolta mais marcante da história da Seleção portuguesa. Inglaterra, Polónia e Marrocos (grupo F) eram os adversários. As instalações onde a seleção portuguesa iria ficar hospedada – um motel junto à estrada – e as instalações de treino eram demasiado más, o que deixou os jogadores portugueses ainda mais insatisfeitos.

À parte disso, não era possível encontrar um adversário para realizar jogos particulares até ao momento em que os funcionários de bares e hotéis da cidade de Saltillo aceitaram jogar contra Portugal, num campo que não estava nivelado. Não obstante, a direção ficaria instalada na capital, a mais de mil quilómetros de distância e, uma semana antes do início da competição, os jogadores ameaçam fazer greve, caso não fossem aumentados os prémios diários e de jogo, além de receberem uma percentagem da publicidade.

O presidente, Silva Resende, não cedeu ao pedido da equipa e os jogadores deram uma conferência de imprensa conjunta onde reafirmaram as suas intenções. Acabaram por deixar de treinar, divertiram-se em festas, jantares e desapareceram durante a noite com as jovens raparigas de Saltillo.

Em Portugal, o Presidente da República pediu bom senso à equipa, embora não pretendesse que os jogadores abandonassem as pretensões de aumentar os salários. Portugal acabou por entrar em campo e venceu a Inglaterra (1-0), mas Bento lesionou-se e deixou a seleção sem um líder durante o jogo. O que teve consequências nos encontros seguintes que resultaram em derrotas com a Polónia (1-0) e Marrocos (3-1). As reivindicações dos atletas não foram asseguradas e a equipa das quinas acabou eliminada na fase de grupos, o que ditou a demissão de José Torres.

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