O antigo selecionador português de futebol José Augusto afirmou hoje que a rescisão de Paulo Bento daquele cargo foi uma solução de “um desportista de caráter”, pois “a situação não era agradável, no momento, para ninguém”.

Em declarações à agência Lusa, o técnico da equipa das “quinas” em 1982/83 sustentou que o agora ex-selecionador deu provas de “ser um grande desportista” e que, para a sua sucessão, é necessária “uma pessoa que possa reestruturar, e não renovar, o futebol da seleção”.

“Temos uma equipa que teve comportamento significativo, mas são precisas mais equipas, de escalões etários mais baixos, a trabalhar”, defendeu José Augusto, dando como exemplo a aposta nos torneio de formação entre seleções distritais, conforme aconteceu no tempo em que era responsável, com Carlos Queiroz, dos combinados mais jovens.

“Esse trabalho redundou num benefício grande, se nos lembrarmos de jogadores que saíram em alta. Os últimos foram o Rui Costa e o Figo, no meu último ano, que os deixei convocados antes de também sair em desentendimento com um dos diretores”, recordou o treinador, de 77 anos, que de 1981 a 1987 trabalhou com os Sub-18.

Deu também os exemplos de “João Pinto, Futre, Rodolfo, entre tantos jogadores que pontificaram e se afirmaram no futebol português e no estrangeiro”.

A reestruturação preconizada por José Augusto “tem que ser encarada com muito trabalho para que, num mínimo de 10 anos, se possa tirar algum resultado desse trabalho”.

“No entretanto, é preciso ir aproveitando as figuras que vão despontando e dar-lhes participação ativa, ou seja, competição internacional”, sublinhou.

Para o antigo internacional luso, “os atuais jogadores têm qualidade, sem dúvida absolutamente nenhuma”, mas é importante que haja “um trabalho que tem de ser desenvolvido no sentido de se arranjar um modelo de jogo que possa ser entrosado nas características dos jogadores que são, para já, selecionados”.

Dando como exemplo o recente jogo com a Albânia, o técnico reformado defendeu que a mesma “é uma equipa que se mostrou mais ou menos à altura” de Portugal, porque tem “jogadores que estão a jogar na Europa, que têm competitividade e experiência”.

“Não se julgue que a Albânia é a de há 20 anos. Não é. Hoje há maturidade e experiência vividas nas equipas da Europa”, acrescentou.

Um dos problemas, afirmou, começa nos clubes: “As equipas que mais jogadores forneciam à seleção estão compostas com uma maioria de estrangeiros. O que é uma certa forma de tapar a ascendência [de novos talentos]”.

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou hoje que Paulo Bento deixou de ser selecionador nacional, num comunicado publicado no seu site oficial, o qual refere que “a decisão tomada conjuntamente” entre a direção do organismo e o treinador.