O antigo vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, António Boronha, confirmou os relatos de Carlos Cruz na sua autobiografia, em que são revelados episódios de subornos a dirigentes de federações europeias para garantir a vitória de Portugal na organização do Euro2004.

O ex-apresentador de televisão era na altura o presidente da Comissão Executiva da Candidatura portuguesa à organização do Campeonato da Europa em 2004, e na sua autobiografia publicada recentemente relata como Gilberto Madail entregava envelopes com dinheiro a dirigentes federativos para garantir votos a Portugal. Para além do antigo presidente da FPF, Carlos Cruz revela ainda que José Sócrates teve um papel determinante na vitória da candidatura portuguesa e que lhe terá dito mesmo que Portugal não poderia perder a oportunidade de organizar o Euro2004 por uma questão de dinheiro.

Em declarações ao jornal A Bola, António Boronha defendeu Carlos Cruz e confirmou os relatos do ex-apresentador de televisão, acrescentando ainda que Gilberto Madail tinha um 'saco azul' para pagamentos não oficiais.

"Não tenho qualquer dúvida de que Carlos Cruz está a falar verdade. Tenho a certeza absoluta de que a Federação, além do charme e da simpatia, terá oferecido mais alguma coisa extra. Aquilo que o Carlos Cruz diz, sem referir o nome, é uma referência ao presidente do Azerbaijão [Fuad Musayev]. Não é novidade. A filha dele passou meses em Portugal. E foi pago pela Federação, não através das contas oficiais mas eventualmente do saco azul. Não tenho a menor dúvida", começou por dizer o vice-presidente da FPF entre 1998 e 2002 à Bola TV.

"Sócrates, como secretário de Estado com a tutela, desenvolveu um trabalho de lobby com Carlos Cruz mas também com Madail, que eram as figuras ligadas ao Euro2004. Faziam o que podiam para tentar ganhar a organização", acrescentou ainda o antigo dirigente federativo.

"O jogo de influências funcionava. Quando havia uma comissão que decidia, toda a pressão foi feita, tanto pelo Sócrates através de governos que pressionavam presidentes de federações, como pelo Carlos Cruz, através do seu conhecimento e das suas relações e política de comunicação", sentenciou António Boronha.