O jogador de futsal Ramada viveu horas complicadas durante um jogo entre o Anorthosis, a sua equipa, e o AEL Limassol no Chipre, referente à penúltima jornada da fase regular do campeonato.

Cuspidelas, “puxões” às camisolas durante o jogo, entrada em campo de adeptos, jogo interrompido, horas de tensão dentro de um balneário, ameaças de morte e ainda a vandalização de um autocarro. Tudo isto aconteceu esta quinta-feira no Chipre.

Ramada contou ao SAPO Desporto as horas de tensão que viveu durante mais um “dia normal” no desporto cipriota.

“O jogo estava a correr de forma tranquila e nós estávamos a vencer na segunda parte. A certa altura, os adeptos do AEL (equipa da casa) irritaram-se. Começaram a cuspir-nos e a agarrar-nos cada vez que nos aproximávamos da linha lateral onde eles estavam. A quadra é muito próxima da bancada e, por vezes, ficamos a apenas um, dois metros deles”, começou por contar.

Isto foi apenas o início de um pesadelo que se viria a adensar com o avançar dos minutos, apesar de serem apenas cerca de 50 os adeptos da casa presentes na partida.

“Como não há polícia nos jogos, tiveram que ser dois diretores da equipa deles a tentar travá-los. Quando faltavam cinco minutos para o fim, um adepto entrou em campo e foi tentar bater num jogador da minha equipa que estava no banco de suplentes, acusando-o deste o ter insultado. Nunca vi isto na minha vida”, disse, incrédulo com que aconteceu.

O jogo foi obviamente interrompido e a certa altura o treinador do Anorthosis decidiu que a sua equipa não podia mais suportar isto e mandou todos para o balneário. Mas esse caminho teve de ser feito com a escolta de dois seguranças que a formação de Famagusta contrata só para os jogos fora onde isto tem tendência a acontecer.

“Quando faltava um minuto para o jogo acabar, o nosso treinador decidiu mandar a equipa para o balneário. E o tal adepto entrou na zona do nosso balneário e ficou à espera do nosso jogador para lhe bater. Nós não pudemos ir para lá, e ficamos nas escadas com dois seguranças que a equipa tem e que são contratados quando há um jogo fora”, revelou.

Os ânimos acalmaram, o jogo acabou, e a equipa lá conseguiu seguir para o balneário, o problema foi sair. Viveram-se horas de tensão com os adeptos a quererem entrar, e os jogadores enclausurados à espera de uma solução. Polícia nem vê-la, até porque como pode ler no lead deste texto nem esta se arrisca a vir para estes jogos.

Foi preciso um pedido de desculpas do jogador, que jurou nada ter feito, ao adepto para que tudo se resolvesse.

“Lá conseguimos ir para o balneário, mas os adeptos ficaram à porta a tentar entrar e nós tivemos e ficar duas horas lá dentro. O mais estranho, e que eu não entendo, é que isto só se resolveu porque o tal adepto exigiu que o nosso jogador pedisse desculpa. Depois de tudo o que nos fizeram, as coisas só acalmaram porque o nosso jogador teve de ir falar com o adepto e pedir desculpa pela situação, por algo que não fez”, relatou.

Os adeptos desmobilizaram e abandonaram o pavilhão, mas não sem antes deixar as marcas da sua raiva no autocarro do Anarthosis. Os pneus foram todos furados e o veículo foi decorado com ameaças de morte.

“Eles foram embora, porém pelo caminho furaram todos os pneus do nosso autocarro e pintaram-no com ameaças de morte. Tivemos de esperar mais duas horas para que mudassem os pneus do autocarro e lá conseguimos sair dali”, declarou agora mais aliviado por tudo ter acabado.

Ramada, que vive a sua primeira época no futsal cipriota, explica então porque não há policiamento nestes jogos apesar da violência ser uma constante.

“Os próprios polícias não querem estar presentes nos pavilhões porque não conseguem garantir a sua própria segurança. Se não têm segurança para os polícias, então imagine para os jogadores...”, atira.

E fazer queixa por situações como esta parece não resolver nada: “A direção diz que não adianta de nada fazer queixa porque a polícia não se envolve nestas situações”.

À margem de tudo isto, que não é pouco, Ramada de 28 anos diz que dentro de campo a experiência não poderia correr melhor. O Anarthosis estreou-se esta temporada na primeira divisão do Chipre e a uma jornada do fim da fase regular, o clube ocupa o terceiro lugar e está nas meias-finais da Taça.

“A minha experiência está a correr às mil maravilhas. Este é o primeiro ano do Anorthosis na primeira divisão. A equipa existe há três anos, começou na terceira divisão e chegou agora à primeira. Fizeram um bom investimento. Eu aproveitei, a proposta era boa e eu aproveitei. O futsal não é tão evoluído mas existem boas equipas. Tem sido uma experiência espetacular, estamos em terceiro e sou o segundo melhor marcador do campeonato. Eles estão contentes comigo e eu com esta experiência. Tanto que já temos um pré-contrato para a próxima época”, conta o jogador.