Os recordes e os números fazem manchetes e capas de jornais e orgulham os jogadores que vêem reconhecido o seu talento. Mas como qualquer generalização este facto está sujeito a erro e Pedro Cary comprova-o. O jogador de futsal do Sporting chegou às 100 internacionalizações por Portugal esta sexta-feira no jogo contra a Noruega de apuramento para o Mundial 2016. Diz-se orgulhoso ao SAPO Desporto, mas também não esconde que nem liga muito a isto.

“É algo que me passa completamente ao lado. Não sei se é algo positivo ou negativo, mas há valores que tenho e que fazem com que dê menos atenção a isso. Obviamente que há objetivos que se podem transmitir em números. Mas o meu objetivo não passa por números, mas pela qualidade que tento pôr em cada jogo”, começa assim a nossa conversa.

O orgulho obviamente que está lá e reconhece - à medida que as palavras saem - que é um marco importante. Mas o que o preocupa é que tudo “passou demasiado depressa” desde a sua estreia em 2008 num Portugal – Bélgica até ao jogo com a Noruega desta sexta-feira.

“Estou muito orgulhoso. Acaba por ser um marco bastante interessante. E espero não ficar pelas cem como é óbvio”, acrescenta.

Um encontro para esquecer... ou para ser recordado

Fazemos então um exercício de memória e viajamos por esses últimos sete anos. Ponto assente: fica a faltar um título. E há um amargo de boca nos jogos com a Itália. Principalmente aquele dos quartos de final do Mundial da Tailândia (2012) em que a seleção perdeu por 4-3.

“Estávamos a ganhar 3-0. Foi um jogo muito marcante por estarmos a vencer ao intervalo e depois toda aquela segunda parte em que não conseguimos do ponto de vista emocional estar equilibrados. A partir do momento em que a Itália começar a marcar um, e dois, parece que se apoderaram de nós pensamentos negativos. Acaba por ser um jogo marcante e muito negativo”, recorda.

O jogo da perfeição

Mas a conversa continua pelo tempo e rumamos até 2010, o tal Europeu da Hungria em que Portugal chega à final depois de uma fase de grupos estranha. A seleção encontra-se e faz um jogo quase perfeito com a Sérvia. Não sou eu que o digo, é Pedro Cary que o lembra.

“Há jogos interessantes que quando eu revejo sinto a tal nostalgia. Tive jogos muito bons, por exemplo contra a Sérvia que vencemos por 5-1. Era uma equipa com muito bons jogadores, ainda tinha o Peric. Dos poucos jogos que me recordo, esse acaba por ser o jogo perfeito que a seleção fez”, atira.

O peso de quem amadurece e o exemplo Pedro Costa

Mas e ter 100 internacionalizações, 31 anos, ser dos mais experientes do grupo não traz responsabilidades? “Sinto esse peso, mas não consigo dar esse contributo como desejava. É um pensamento diário desde que entro na seleção, mas que devido à minha forma de estar acaba por não ser notório. Agora, sabem que de mim terão todo o apoio incondicional seja na ação positiva ou negativa”.

E a partir daqui solta o exemplo de alguém que admira e que tinha esse espírito: Pedro Costa, jogador do Nagoya Oceans.

“Quando me perguntam pelo meu ídolo, pela pessoa em quem me revia, é sem dúvida o Pedro Costa. Porque era e é um jogador que tem tudo isso. Gostava de ter toda aquela facilidade, sendo característica dele, de contaminar tudo o que o rodeia do ponto de vista da qualidade de jogo, da forma de estar, da facilidade em colocar um grupo animado dentro e fora da quadra”. Remata este assunto dizendo que ainda está “em busca disso”.

Portugal está muito perto de conquistar algo

Pedro Cary cresceu, assim como o futsal desta seleção. Das dúvidas das respostas anteriores surgem as certezas numa coisa: Portugal está mais perto de conquistar algo.

“Neste momento temos o melhor jogador do mundo. Isso faz logo toda a diferença e é importante que ao termos um jogador com esta qualidade, precisamos complementá-lo”, explica.

Depois, fala numa entreajuda vincada que torna este grupo diferente para melhor: “Não tirando mérito às equipas que por aqui passaram - porque se Portugal está onde está, muito se deve a eles -, o que é certo é que temos uma seleção jovem, renovada e com outros valores. Valores mais humildes, terra a terra. Há mais um espírito de entreajuda, algo que está muito vincado. Há qualidade, mas algo mais importante do que isso que é a vontade de dar tudo pelo outro, fazer tudo pelo outro e isso existe”.

A conversa termina como começou, com um jogador que pouco liga a números mas sempre orgulhoso pelo que até agora atingiu: “Com 31 anos, 100 internacionalizações, estou orgulhoso e contente por este trajeto”.