Dos primeiros Jogos Olímpicos de Atenas, em 1896, a Tóquio 2020, confira uma seleção de atletas que escreveram a história olímpica com recordes, façanhas e vidas fora do comum.

Nadia Comaneci: uma performance perfeita

A ginasta soviética Larissa Latynina surpreendeu nas décadas de 1950 e 1960, mas a chegada desta pequena romena, de 1,53m de altura e 41 quilos, marcou para sempre uma modalidade que ajudou a popularizar como ninguém.

Em 1976, aos 14 anos e 8 meses, Comaneci brilhou nos Jogos de Montreal: com um exercício impecável nas barras assimétricas, alcançou a nota máxima pela primeira vez na história olímpica.

Os placares nem eram programados para registar os dígitos '10,00' e inicialmente apresentaram a pontuação 1,00. Os espectadores, boquiabertos, compreenderam rapidamente o verdadeiro resultado quando este foi anunciado no sistema de altifalantes, começando uma ovação à atleta. Este foi o primeiro de sete  pontuações máximas que Comaneci conquistou na cidade canadiana.

A ginasta, que começou a praticar a modalidade no jardim de infância, tornou-se um fenómeno global. Em Moscovo, quatro anos depois, ainda conquistou mais duas medalhas de ouro antes de se reformar em 1981.
Após o sucesso, o ditador Nicolae Ceaușescu tornou-a um ícone do regime, mas a relação da ginasta com o Estado deteriorou-se, o que fez com que começasse a ser vigiada de perto.

Comaneci conseguiu, finalmente, romper a cortina de ferro em novembro de 1989, um mês antes da revolução, passando pela Hungria a pé antes de chegar aos Estados Unidos. Casada com um ginasta americano que conheceu em Montreal, Bart Conner, bicampeão olímpico em Los Angeles 1984, foi-lhe atribuída a nacionalidade americana em 2001.

Teófilo Stevenson: três ouros que poderiam ter sido quatro

Tricampeão olímpico e mundial amador, o cubano Teófilo Stevenson é considerado por muitos como o melhor pugilista da história das Olimpíadas. Às medalhas de ouro em Munique 1972, Montreal 1976 e Moscovo 1980 poderia ter acrescentado mais uma em Los Angeles-1984, edição em que não compareceu nenhum representante cubano.
Isto porque, meses antes, Stevenson lutou e derrotou o americano Tyrell Biggs, que viria a conquistar a medalha de ouro em pesos pesados na cidade americana.

Stevenson foi o primeiro pugilista a ganhar três medalhas de ouro olímpicas na mesma categoria. A qualidade era tanta que até o seu adversário na semi-final de Munique, o alemão Peter Hussing, lhe deixou rasgados elogios. "Nunca fui atingido com tanta força em 212 lutas. Não dá para ver a mão direita dele até que, de repente, ela está a bater no teu queixo".

Nos Jogos de 1976, Stevenson, que herdou do pai a paixão pelo boxe, ganhou por KO contra os três primeiros rivais num tempo recorde de 7 minutos e 22 segundos. Anos depois, em 1980, o húngaro Istvan Levai tornou-se o primeiro pugilista a aguentar os três rounds contra Stevenson que, seis anos depois, ainda mostrou que era o melhor, vencer o Campeonato do Mundo aos 36 anos.

Apesar das inúmeras ofertas que recebeu para se profissionalizar e mudar para os Estados Unidos da América, onde iria lutar contra grandes estrelas como Muhammad Ali, George Foreman ou Joe Frazier, Stevenson manteve-se sempre fiel à Cuba revolucionária. "Melhor vermelho do que rico", resumiu à revista americana Sports Illustrated. O pugilista acabou por morrer em Havana, aos 60 anos, vítima  de ataque cardíaco.

- Alberto Juantorena: um feito incomparável

Grande jogador de basquetebol, desporto que praticou na juventude, Alberto Juantorena nunca pensou em ser atleta até aos 20 anos, mas a sua marca no desporto-rei dos Jogos Olímpicos ainda está presente.

Apelidado de 'Cavalo' pela forma rápida e elegante de correr, o cubano continua como o único atleta da história a ter vencido os 400 metros e os 800 metros nos mesmos Jogos Olímpicos, uma proeza ainda mais marcante porque a primeira distância é considerada uma prova de velocidade e a segunda, uma corrida de meio-fundo, mais tática.

Juantorena foi também o primeiro campeão olímpico nessas distâncias que não era natural de países de língua inglesa e o primeiro atleta a conquistar uma medalha de ouro para Cuba. Depois de se reformar da competição foi nomeado número 2 do desporto cubano, enquanto vice-presidente do Ministério do Desporto, foi membro do Comité Olímpico Internacional e continua a integrar o conselho da Federação Internacional de Atletismo (atual World Athletics).

Carl Lewis: a lenda do atletismo

Com elegância na pista e faro para os negócios, Carl Lewis, nove vezes medalha de ouro nos Jogos Olímpicos e oito vezes campeão mundial, é uma lenda do atletismo dos anos 80 e 90. A silhueta do atleta era facilmente reconhecível, especialmente por causa dos seus calções característicos e corpo esguio

Sem esconder o desejo de "construir um negócio", Lewis simboliza a mudança no mundo do desporto, especialmente do atletismo, numa era marcada pelo marketing e pelo dinheiro.

Já no início da década de 80 o seu talento ganhou destaque, embora não tenha participado nos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980, devido ao boicote americano em plena Guerra Fria. Em Los Angeles igualou o lendário desempenho de Jesse Owens nos Jogos de Berlim em 1936 com quatro medalhas de ouro (100m, salto em comprimento, 200m e 4x100m). Em Seul 1988 repetiu o ouro nos 100 metros, após a desclassificação de Ben Johnson por doping, e no salto em comprimento. Lewis conquistou ainda a medalha de prata nos 200 m. Já em 1992, em Barcelona, ganhou novamente o ouro nos 4x100 m e no salto em comprimento, vencendo Mike Powell por três centímetros.

Prejudicado por lesões nas temporadas seguintes, só regressou em 1996 para uma despedida olímpica. Aos 35 anos, e beneficiado pelas lesões dos rivais, colocou a cereja no topo do bolo da carreira vencendo a nona e última medalha de ouro no salto em comprimento, que foi a quarta consecutiva.