Questionado sobre as expetativas para os próximos Jogos Olímpicos, o bicampeão europeu da categoria -58 kg foi pronto a indicar que só percorreria novamente o caminho olímpico se houver condições.

"Sem condições é impossível chegar a algum lado. Podia dar para voltar a pedir aos meus pais, mas isso não dá. Só com patrocínios e apoios, porque voltar a fazer as coisas à maluca não dá. Aos meus pais devo estar aqui, todo o apoio deles, emocional e financeiro, ao meu treinador, ao meu colega de treino. Sem dúvida que foi um esforço pessoal, não fui eu, fomos nós", sublinhou.

Rui Bragança reconheceu que o taekwondo ainda é muito pequeno em Portugal e, como tal, todo o investimento feito na sua caminhada olímpica foi da sua responsabilidade.

"O meu clube [Vitória de Guimarães] não é muito grande, o taekwondo ainda não tem a dimensão do futebol para alguém apostar. Pode ser que agora depois dos Jogos as coisas mudem. Pode ser que se comece a olhar para o taekwondo como, por exemplo, se começou a olhar para o judo, que as coisas comecem a mudar, que se comece a abrir caminho atrás de mim", disse.

O campeão dos Jogos Europeus Baku2015 pensa que será impossível algum dia a sua modalidade ter o apoio que tem noutros países.

"Nós íamos de voos ‘low cost’ e a ficar em ‘hostels’. Às vezes, ia eu e o Nuno [Costa]... já temos muitas aventuras, podíamos escrever um livro. Mas isso não dá para repetir, foi muito divertido, mas também foi muito duro", confessou.

Para o jovem de 24 anos, falta reconhecimento ao taekwondo em Portugal : "Basta às pessoas acreditarem no taekwondo, porque, se apostarem em nós, nós vamos conseguir chegar aos Jogos Olímpicos e trazer uma medalha, vamos conseguir ser Campeões do Mundo e da Europa. Sem apoios, eu fui bicampeão da Europa, o Júlio Ferreira foi campeão da Europa, temos um atleta que é o número quatro do mundo, eu sou o número três do ‘ranking’ olímpico... temos tanta coisa e sem nada".

Por isso, Bragança só pede que a sua presença olímpica dê visibilidade à modalidade que é a sua paixão.

"Se não foi para mim que seja para quem vem atrás de mim, que não tenham de passar por aquilo que eu passei, que tenham condições, porque talento não falta em Portugal. Basta um bocadinho, uma pequena ajuda e nós fazemos tanto, tanto", assegurou.

O vimaranense frisou que os atletas já fazem tudo o que podem, mas que não podem ser eles a mudar a modalidade em Portugal.

"Nós tentamos. Pedimos apoios, mas levar sempre com um não? Depois chega a uma altura em que ou nos dedicamos aos treinos ou andamos a bater às portas. Por isso, se calhar, que alguém preste um bocadinho de atenção ao taekwondo. Talento não falta, só falta um pequeno empurrão. Eu sou atleta, sou médico, sou fisioterapeuta... também não posso ser dirigente", defendeu.

No caminho do estudante de Medicina, havia uma cortina até ao Rio2016, que agora terá de ser aberta para destapar o futuro.

"Continuar no taekwondo não fica fora de questão, agora a dúvida é a que nível faço essa época. Vamos ver. Isto é aquilo que eu mais gosto, é a melhor coisa do mundo... se vocês experimentassem ir lá para dentro. Para o ano as rotinas vão manter-se. Tenho de estudar para o Harrison. Enquanto uns estão no hospital e a estudar para o Harrison, eu vou estar a treinar e a estudar. Até aí tudo bem, depois disso vamos ver", concluiu.