Investigadores da Universidade de Yale concluíram que o vírus do Zika constitui um risco reduzido para a comunidade internacional durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Brasil, no próximo mês.

No cenário mais pessimista, os cientistas estimam que entre três e 37 dos milhares de atletas, espetadores, jornalistas e comerciantes que se estima viagem para o Rio de Janeiro para as Olimpíadas levem o vírus de volta para os seus países.

As conclusões, dos investigadores da Escola de Saúde Pública de Yale (YSPH), vão ao encontro da posição da Organização Mundial de Saúde, que defende que viajar para os Jogos Olímpicos não terá um papel significativo na disseminação internacional do Zika.

Publicado na revista Annals of Internal Medicine, o estudo vai no entanto contra uma recente recomendação, de 150 membros da comunidade académica internacional, de cancelamento ou relocalização dos Jogos Olímpicos para prevenir a expansão do vírus.

Alguns atletas já anunciaram que não irão viajar para o Rio de Janeiro devido a preocupações associadas ao Zika.

"É importante perceber o baixo nível de risco das Olimpíadas no esquema de muitos outros fatores que contribuem para a disseminação internacional do vírus do Zika", disse Joseph Lewnard, doutorando na YSPH e principal autor do estudo.

Lewnard, juntamente com Albert Ko e Gregg Gonsalves, construíram um modelo matemático que teve em conta a atual transmissão do Zika no Rio de Janeiro, as condições sazonais e os padrões de viagem, entre outros fatores.

Mais de metade dos viajantes que se estima que irão assistir aos Jogos Olímpicos deverão regressar para países ricos onde o risco de estabelecimento da transmissão local do vírus é negligenciável, defendem os investigadores.

Cerca de 30% viajarão para países da América Latina onde a transmissão já está estabelecida, por isso não terão um papel importante na disseminação do vírus, recordam.

"A possibilidade de viajantes regressados dos Jogos Olímpicos espalharem o Zika tornou-se um assunto polémico, que já levou atletas a desistir do evento e, sem provas, a estigmatizar o Brasil. Este estudo fornece dados que, juntamente com descobertas iniciais dos cientistas brasileiros mostram que essas preocupações são largamente exageradas", disse Albert Ko, responsável do Departamento de Epidemiologia na YSPH.

Estima-se que os Jogos Olímpicos possam atrair até 500.000 visitantes ao Rio de Janeiro, onde atualmente é inverno, pelo que a atividade dos mosquitos está reduzida.

Transmitido pelo mosquito ‘Aedes aegypti’, o Zika surgiu no Brasil há cerca de dois anos e desde então espalhou-se rapidamente pelo país e parte do hemisfério sul.

Embora tenha poucos ou nenhuns sintomas, a doença está associada a problemas congénitos quando ocorre infeção na gravidez, nomeadamente a microcefalia, uma deficiência marcada por cabeças mais pequenas do que o normal, e a síndrome Guillain-Barré, uma doença autoimune.

O Brasil, o país mais afetado pela epidemia de Zika, contabiliza 1.709 casos de microcefalia em recém-nascidos desde outubro do ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde brasileiro.