O Comité Olímpico de Portugal (COP) organizou ontem e hoje um ciclo de conferências dedicado à preparação olímpica, em Oeiras, que juntou treinadores, atletas e investigadores académicos para refletirem sobre exemplos, percursos e contextos na área desportiva.

Uma das sessões mais aguardadas do programa abordou o "Treino do Jovem Atleta", contando com a palestra do professor norte-americano Robert Malina, da Universidade do Texas, à qual se seguiu uma mesa-redonda sobre a "Preparação Desportiva de Longo Prazo". Moderada por António Marques (FADEUP), esta palestra reuniu, para além do Prof. Robert Malina, treinadores de diversas modalidades: João Neto (Judo), Lino Barruncho (Triatlo) e Pedro Roque (Ginástica), além dos professores universitários Francisco Alves (FMH) e João Valente dos Santos (IBILI-CIDAF, Univ. Coimbra e ULHT).

Nesta última, os três treinadores portugueses - João Neto (judo), Lino Barruncho (triatlo) e Pedro Roque (ginástica) -, aproveitaram para expor algumas preocupações e questões ao intelectual norte-americano.

Com efeito, João Neto começou por discutir a importância da perda de peso nos judocas e as consequências de uma dieta severa e da desidratação na performance desportiva ao mais alto nível. Já Lino Barruncho tomou a palavra para levantar a questão de qual a idade ideal entre os jovens para a seleção e especialização competitiva para o alto rendimento. Por fim, Pedro Roque sublinhou a evolução competitiva da ginástica nas últimas décadas - atletas mais jovens, grande aumento do número de horas de treino e crescente dificuldade dos exercícios -, questionando ainda a importância da maturação tardia nas atletas de alto nível.

A todas estas dúvidas Robert Malina tentou responder de forma simples e direta, apesar da dificuldade de encontrar um argumento único e absoluto. Em contrapartida, o investigador norte-americano preferiu valorizar outros aspetos: os efeitos da prática de exercício físico de forma voluntária e sem imposições externas; o valor da ética e o risco de estratégia e batota terem uma fronteira cada vez mais ténue; a importância de estudos mais abrangentes, não apenas centrados nos atletas, mas que englobem também as dinâmicas ao nível dos treinadores e o contexto familiar e social, cuja realidade pode igualmente ter impacto no rendimento desportivo.

As conclusões desta e das restantes conferências realizadas no Lagoas Park Hotel foram valorizados por José Manuel Constantino, presidente do COP. Em entrevista ao SAPO Desporto, o líder do organismo salientou a importância destes contributos científicos para a otimização do rendimento desportivo e realçou também o envolvimento crescente dos atletas. "É um processo colaborativo e temos cada vez mais atletas inscritos em universidades. Há inclusivamente uma atleta - Beatriz Gomes - que está a lutar por uma vaga olímpica e na próxima semana irá defender a sua tese de doutoramento. Há uma maior abertura dos atletas para o conhecimento", rematou.