Nelson Oliveira saiu do Rio2016 sem a desejada medalha, que foi parar ao pescoço de Fabian Cancellara, Tom Dumoulin e Chris Froome, mas com um diploma que atesta o melhor resultado de sempre do ciclismo português em contrarrelógios olímpicos.

Sempre em crescendo ao longo dos 54,6 quilómetros do exercício individual, o quatro vezes campeão nacional de contrarrelógio cortou o risco com o tempo de 1:14.15 horas, tendo de esperar pela chegada dos oito homens que partiram depois de si para confirmar que o diploma olímpico era seu.

Sétimo, a 1.59 minutos do novo campeão olímpico, o suíço Fabian Cancellara, Nelson Oliveira assegurou o melhor resultado de sempre de um português num 'crono' nos Jogos Olímpicos, melhorando o seu 18.º lugar de Londres2012 e garantindo um Diploma Olímpico.

Ao início da manhã, na ‘box’ da seleção portuguesa, ‘Nelsinho’, como é conhecido no pelotão, estava descontraído. De telemóvel na mão, quieto na sua cadeira, alheio ao entra e sai de pessoas, o ciclista da Movistar era o espelho da tranquilidade - quem o conhece, sabe que a impassibilidade é uma das suas principais qualidades.

Quando se levantou para iniciar o aquecimento, espreitou para a box da Holanda e lançou um “Hei, Tom [Dumoulin]. Good Luck”. Mal subiu à bicicleta, o atual tricampeão nacional da especialidade transformou-se: concentrado, de ‘phones’ nos ouvidos, pedalou até encharcar para, pouco depois, rumar ao local de partida.

Quando saiu da rampa de lançamento - foi o nono a contar do fim – para enfrentar o percurso de 54,6 quilómetros, com saída e chegada ao Pontal, em Copacabana, completo em duas voltas ao circuito de Grumari, que incluía as subidas a Grumari (1,3 km com uma pendente média de 4 por cento) e à Grota Funda (2,1 km a 6,8 por cento).

Com o piso molhado e a chuva a cair, o corredor de Vilarinho do Bairro (Anadia), de 27 anos, partiu cauteloso, sendo sétimo à passagem pelos dois primeiros pontos intermédios e oitavo no terceiro. O cenário não estava famoso para o português, que via como Fabian Cancellara pulverizava os registos nas contagens intermédias, numa luta aparentemente renhida com o australiano Rohan Dennis.

No mais solitário dos exercícios do ciclismo, Oliveira recuperou a passada e, quando passou ao quilómetro 34,6, o principal ponto intermédio, era quinto, a 50 segundos de Jonathan Castroviejo – Dennis melhoraria logo de seguida, estabelecendo o melhor tempo, antes de ficar afastado das medalhas devido a um inconveniente furo e à consequente mudança de bicicleta.

Em crescendo - foi mesmo o mais rápido no setor final -, estabeleceu a nona melhor marca no último dos pontos intermédios cronometrados e, na descida final até à meta, embalou para ultrapassar três corredores que tinham partido à sua frente e garantir o sétimo lugar final num ‘crono’ em que não houve medalhados surpresa.

Cancellara beneficiou do azar de Dennis e ganhou o ouro, com um tempo estratosférico de 1:12.15 horas e uma média de 45,255 km/h (foi o único a pedalar dentro dos 45 km/h), deixando o grande favorito, o holandês Tom Dumoulin, a 47 segundos, e o britânico Chris Froome, que voltou a ter de contentar-se com o bronze tal como há quatro anos, a 1.02 minutos.