A fundista portuguesa Salomé Rocha mostrou-se hoje “completamente satisfeita” com a sua participação na final dos 10.000 metros dos Jogos Olímpicos Rio2016, em que o recorde do mundo caiu por mais de 14 segundos.

“Se tenho a sensação de ter andado num TGV? Tenho, tenho essa noção. Elas passavam por mim e eu percebia que o ritmo ia muito forte, são ritmos para 'super-heróis'. Posso dizer que estava com eles na prova em que se bateu o recorde do mundo, o que, para mim, já é muito bom”, disse a atleta lusa.

No Estádio Olímpico, a etíope Almaz Ayana tirou 14,33 segundos ao ‘velhinho’ máximo mundial da chinesa Wang Junxia, que datava de 08 de setembro de 1993, e 37,21 ao recorde olímpico, da sua compatriota Tirunesh Dibaba, que foi terceira, ao correr em ‘supersónicos’ 29.17,45 minutos.

Longe, muito longe dessas correrias, a atleta do Benfica manteve o seu ritmo: “Tentei acompanhar o 'comboio' o mais que consegui. Depois, elas atacaram e eu não fui, porque poderia não conseguir aguentar até final aquele ritmo”. “Tentei adotar o meu ritmo e fui passando algumas atletas na parte final. Saio daqui bastante satisfeita. Fiquei a apenas 23 centésimos do meu máximo pessoal, o que, em 10.000 metros, não é quase nada”, disse, após ser 26.ª, com 32.06,05 minutos, muito perto da sua melhor marca (32.05,82).

Salomé Rocha lamentou não ter conseguido esse registo, nem entrar nas 20 primeiras, mas saiu do Estádio Olímpico “com o dever cumprido”, sentido que orgulhou o país, as cores de Portugal, tendo ‘sprintado’ “até ao último metro”, para depois abraçar o treinador, Rui Ferreira.

A atleta ‘encarnada’ disse ainda ter-se adaptado bem às condições meteorológicas, com algum frio e chuva, e gostado do ambiente no Estádio Olímpico: “É fantástico passarmos pela meta e estar toda a gente a gritar, a apoiar. É brutal”.

Quanto aos números do recorde do mundo a bater no Rio2016, Salomé Rocha admitiu ser imprevisível: “Estamos nuns Jogos Olímpicos. Aqui, tudo poderá ser possível. As etíopes meteram o seu ritmo e bateram o recorde do mundo. É fantástico”. “Se são de outro planeta? Sim, podemos dizer isso, mas ninguém é invencível. Um dia, quem sabe, não poderá ser uma europeia a bater o recorde. Claro que estamos a falar de super-mulheres. Para já, estão num mundo à parte. São máquinas e é excecional vê-las correr - embora eu não tenha visto muito - mas é excecional”, reconheceu.

Salomé Rocha lembra-se de as “ver passar uma vez”, no seu passo imparável: “Porque correm assim? Nunca fui para a Etiópia ou para o Quénia para tentar perceber. Gostava de correr como elas, gostava muito. São espetaculares”.

Quanto aos seus objetivos futuros, passam por bater os seus máximos: “Para a próxima, gostava de bater o meu recorde pessoal. Cada ano que passa proponho-me sempre bater as minhas marcas e gostava de bater novamente”.

“Treinei para isso. Posso dizer que este ano cumpri tudo, não faltei a um único treino, não reclamei uma única vez de um treino e cumpri mesmo tudo para que tudo corresse bem e saio daqui satisfeita, porque mais do que isto só mesmo o recorde pessoal, que não bati por 23 centésimos, mas saio daqui completamente satisfeita”, finalizou.