Longe da Vila Olímpica e perto do ambiente de casa. A seleção angolana de andebol feminino mudou, sábado à noite, de dieta na véspera do decisivo jogo deste domingo frente à Espanha, no torneio Rio2016.

O cenário escolhido pelo Consulado Geral de Angola no Rio de Janeiro foi a favela Piscinão de Ramos, zona norte, e juntou, além das andebolistas e membros da missão olímpica, centenas de compatriotas, num jantar à moda angolana, ao ritmo da Banda Maravilha, Legalize e Dom Caetano.

As jogadoras mostraram-se soltas e degustaram pratos típicos do país, num “alívio” para o estômago de grande parte delas, antes confinadas à alimentação disponível na Vila Olímpica e normalmente sem alterações no cardápio.

A voz da satisfação é justamente do selecionador angolano, Filipe Cruz, para quem o jantar e o ambiente criado junto de outros angolanos no Rio de Janeiro só desanuvia a tensão que se vive dentro da Vila Olímpica.

“Precisávamos de outros ares, em função do que estamos habituados nas últimas semanas na Vila. Chegámos a uma altura em que já precisávamos descomprimir um pouco do ambiente olímpico, principalmente da alimentação. O pessoal já está um pouco agastado com a comida. Então precisávamos de diferenciar um pouco e nada melhor que a comida da nossa terra”, admitiu o técnico que se estreia no comando da equipa feminina.

Em companhia da música angolana e variedades de pratos, além do carinho da comunidade, houve tempo para cada uma conversar com quem quisesse e reservar espaço para admiradores, já que na Vila tal é impensável, por diversas razões, entre as quais a segurança e as regras do comité organizador.

É deste modo que o técnico lembra os finais de semana em Luanda, de onde toda a sua armada saiu há quase um mês. Mas em véspera de importante jogo não seria melhor descansar e guardar energia para encarar a Espanha?

A isto Filipe Cruz assume e acrescenta: “De uma forma ou doutra, estamos aqui a carregar baterias, para ganharmos à Espanha. É um aditivo para o jogo deste domingo, só pelo simples facto de fazermos algo diferente durante essa estadia”.

Por tudo que Angola está a produzir nesse torneio, os adversários também temem. As outras seleções preocupam-se mais com as embaixadoras de África, pois em termos competitivos não está muito atrás das demais.

Nesta perspetiva, até as andebolistas estão em sintonia. A experiência marcante da Vila Olímpica tem de tudo um pouco, mas quando a questão é alimentação e dança, ninguém segura a “estrela” do momento no Rio de Janeiro.

Teresa Almeida “Bá”, que tem sido motivo de muitas reportagens sobre o seu percurso pela imprensa brasileira, soltou-se e observou os pontos positivos do encontro de confraternização, embora a missão seja a participação nos Jogos do Rio2016.

“É bom poder comer funje, calulu, feijão e partilhar esses momentos com aqueles que têm estado connosco nas bancadas e na televisão, para apoiar a seleção”, sublinha a principal guarda-redes da formação angolana, que de “outsider” passou a assustar as adversárias no torneio de andebol.

Mais de 100 angolanos e alguns brasileiros curiosos juntaram-se no mesmo largo para estar de perto com os atletas, com os quais tiraram selfies, filmagens e troca de impressões, sobre o dia-a-dia dos desportistas na Vila Olímpica.

O Piscinão de Ramos, na Zona Norte, é um dos pontos de encontro de angolanos, já registada e legalmente documentada através das Campanhas de Registo Civil do Consulado Geral de Angola.

O Parque Ambiental da Praia de Ramos Carlos Roberto de Oliveira, popularmente conhecido como Piscinão de Ramos ou Piscinão da Maré, é uma área de lazer que consiste numa praia artificial de areias de tombo em torno duma piscina pública de água salgada, instalada no bairro da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro.

Foi planeado e construído pelo governo de Anthony Garotinho ao longo de 2000 e 2001, sendo inaugurado em dezembro deste último ano.