"Uma coisa é certa: eu não ia desistir. Fosse como fosse, até com uma queda, eu não ia desistir. Lá está, troquei a roda e pela regra dos 80 % fui mandado encostar. Passa muita coisa pela cabeça, mas a primeira é frustração", disse.

O português, que partiu a roda traseira, foi perentório ao asseverar que teria ficado em prova até ao final se não existisse a regra que determina o afastamento dos corredores com um tempo de atraso superior em 80% ao do líder na primeira volta.

"Ia ser até ‘partir o motor’. Eu queria sair daqui sem arrependimentos. E agora tenho um misto de sensações: sei que não foi culpa minha, sei que foi um problema mecânico que eu não podia antever. Não bati em lado nenhum, mas o que é facto é que sair daqui sem ter dado tudo é de uma frustração total", explicou.

Logo a seguir à zona técnica, David Rosa partiu a roda de trás. "Ficou completamente destruída. Nem sequer dava para ir em cima da bicicleta e deixá-la rolar, não havia hipótese. Tive de fazer meia volta com a bicicleta à mão, ainda para mais a parte mais dura, que antecede a subida e descida mais longas. Com ela à mão, ao ombro, à mão. Como é lógico, perdi muito tempo", descreveu, com marcas visíveis do esforço sobre-humano nas pernas e mãos.

O leiriense, de 29 anos, contou que não embateu em qualquer obstáculo, apontando antes uma questão de torção para justificar a avaria.

"Quando estou a fazer uma curva, provavelmente foi a força lateral. Eu ouvi um barulho e provavelmente foi o aro a ceder. Eu depois, logo a seguir, tentei pedalar, mas a bicicleta não andava. Eu aí já sabia que era correr o mais rápido possível até à zona técnica. Foi precisamente isso que eu fiz. Desistir estava fora de questão. De forma alguma ia desistir", assegurou.

O corredor nacional, que tinha planeado fazer uma corrida de trás para a frente, ocupava a 14.ª posição quando o infortúnio aconteceu.

"Sabia que ia ser uma prova muito tensa, que ia haver confusão no início e estava a preparar-me. Estava a fazer linhas alternativas, por saber que ia haver essa confusão. Estava a ganhar lugares com essas linhas. Penso que termino a primeira volta em 20.º lugar. Se eu no início da terceira já estava em 14.º e não me estava a sentir a quebrar... estava a fazer uma prova completamente limpa, sem erros. Vir aqui e, depois de quatro anos de trabalho, partir uma roda, sem ter hipótese de depois recuperar, é de uma frustração enorme", reforçou.

Desalentado, Rosa chegou mesmo a garantir que preferia ter sido forçado a abandonar devido a uma queda, uma vez que se isso acontecesse o erro seria seu.

"Mas quando é uma avaria desta, principalmente quando eu estava a fazer uma prova com cautela, já para não ter problemas técnicos, porque havia muita gente a arriscar e a pagar por esses riscos... se fosse uma queda, teria de continuar. Agora, assim, é frustrante, é muito mau", lamentou.

Enquanto falava com os jornalistas, o português, que em Londres2012 foi 23.º na estreia olímpica, não conseguiu abstrair-se da corrida que seguia sem ele - "olha, o belga com quem eu ia está em 11.º" -, assumindo que o que estava a viver era uma tortura.

"Agora é tortura durante quatro anos. É o "e se" isto e aquilo. Ainda por cima, sei que estou na minha melhor forma de sempre. Sei que estava a fazer uma prova limpa, sem erros, com relativa frescura física, porque aqui ninguém vai fresco. Mas eu sabia que, mesmo com as condições em que a pista estava - eu não sou um corredor para provas de lama -, estava a dar-me muito bem", sublinhou.