A Missão Olímpica Portuguesa aos Jogos de Londres2012 acusou hoje a velejadora de RS:X Carolina Borges Mendelblatt de «omissões, falsidades e contradições», garantindo que nunca teve conhecimento da «hipotética gravidez que agora declara».
Num longo comunicado, a Missão esclarece que nunca houve «discursos dissonantes» dentro da delegação portuguesa sobre o «caso», explicita várias situações de «incumprimento» por parte da atleta, nega que haja qualquer atraso no pagamento da bolsa olímpica e imputa à velejadora, a quem foi cancelada a acreditação, toda a responsabilidade no atraso do seu pagamento.
A nota começa por esclarecer que «a Chefia de Missão não excluiu a atleta dos Jogos, dado que foi a própria que decidiu autoexcluir-se da prova», recordando o «telegráfico email» no qual Carolina Borges alegava «questões médicas e pessoais» para não competir no torneio olímpico de prancha à vela.
O caso começou terça-feira, dia em que atleta deveria ter iniciado a competição de prancha à vela olímpica, marcando o regresso de Portugal àquela Classe, o que não acontecia desde os Jogos Olímpicos de Atlanta'96, então pela madeirense Catarina Fagundes.
A Chefia de Missão apenas terá conseguido contactar a atleta durante a manhã de hoje, quando esta «atendeu pela primeira vez o telemóvel», mas a atleta «desligou de imediato a chamada sem dizer mais nenhuma palavra».
O cancelamento da acreditação olímpica da velejadora também merece referência: «Apenas e só o não cumprimento dos regulamentos levou à decisão de retirar a sua acreditação».
O comunicado explica também a alegada contradição da atleta na entrevista publicada hoje pelo jornal A Bola, na qual Carolina, mulher do velejador norte-americano da Classe Star Mark Mendelblatt, revela estar grávida de três meses.
«A atleta alega estar grávida de três meses, de acordo com a comunicação social, algo que para nós é uma total surpresa, dado que nunca nos comunicou, como a própria reconhece na entrevista», realçar a Missão Portuguesa.
Ainda sobre a «hipotética gravidez» de Carolina, além de ser referido que «a atleta omitiu deliberadamente a sua situação», a nota lembra que «a atleta está obrigada pelo contrato assinado a reportar toda a situação clínica, o que nunca fez».
«A sua capacidade ou incapacidade para competir terá de ser avaliada pelo departamento médico da Missão Portuguesa, sendo esta a única entidade com competência para tal parecer», explica.
Uma das alegadas contradições apontadas a Carolina prende-se aliás com o facto de a velejadora dizer que «foi vista por um médico na Aldeia de Londres», dizendo depois que «nunca falou com ninguém porque não tinha que o fazer».
A não atribuição de um treinador a Carolina Borges Mendelblatt também é refutada: «O enquadramento técnico da vela é da responsabilidade exclusiva da Federação Portuguesa de Vela, sendo que o faz por classes e não por atletas. Pelo que há um treinador responsável por classe».
O alegado não pagamento da bolsa é considerado «falso» e a situação é explicada por um «erro da atleta na entrega dos dados para a transferência» bancária.
A transferência terá sido inicialmente feita no dia 21 de junho, mas foi devolvida devido a um erro do ABA Number, que deveria ter oito dígitos.
A situação foi reportada à atleta por correio eletrónico, a 11 de julho, após informação do banco, tendo a velejadora reenviado os dados «no próprio dia», mas a continuação dos mesmos nove dígitos no ABA Number forçou a uma nova comunicação com a entidade bancária.
«No dia 04 de julho regularizou-se a situação referente ao pagamento das bolsas em atraso, tendo sido feito o pagamento do último mês no dia 27 de julho. Como tal, não há qualquer valor em falta por parte do COP para com a atleta, ao contrário do que afirmou», pode ler-se.
A nota também discorre sobre os alegados «discursos dissonantes» dentro da Missão.
«Chefe [Mário Santos] e Chefe Adjunto da Missão [Nuno Delgado] disseram uma e a mesma coisa, ainda que por palavras diferentes, o que gerou alguma confusão que clarificámos a quem nos solicitou essa mesma clarificação», é dito no comunicado.
A Missão Portuguesa considera ainda que atleta demonstrou «sempre um enorme distanciamento do grupo» da vela nacional, embora admita que «apesar das enormes dificuldades» por ela colocada, deu sempre todas as informações que lhe foram solicitadas, nomeadamente a comunicação do paradeiro para hipotéticos controlos anti-dopagem ou marcação de treinos.
O comunicado será a «última posição» que a Missão tomará sobre o assunto, pois não quer «transformar a participação de Portugal nos Jogos Olímpicos Londres2012 numa novela paralela, que nada tem a ver com o Desporto, nem com os valores da Carta Olímpica».