José Sousa, um dos vice-presidentes da Federação Portuguesa de Canoagem, lembrou que a arte de conquistar finais olímpicas e medalhas dá «muito trabalho» a atletas, treinadores e federação, que tem levado a modalidade a patamares ímpares com recursos mínimos.

«Nenhuma federação pode estar satisfeita com as verbas que tem, muito menos a canoagem, que no ‘ranking’ dos apoios [estatais] é praticamente ‘medalhável’... mas de baixo para cima. Estamos quase em último lugar em termos de apoio, mas no topo em termos de resultados», sintetizou José Sousa, um dos vice-presidentes da federação.

Minutos após a medalha de prata do K2 1.000 Fernando Pimenta/Emanuel Silva e do sexto lugar do K4 500 feminino (a canoagem ainda lutará por finais nos 200 metros e quinta-feira, nos 500, tem nova final em K2 e final B em K1), o dirigente enviava uma mensagem à tutela, de quem a modalidade sempre esperou «muito mais, de acordo com as dezenas de medalhas internacionais conquistadas nos últimos anos».

«No futuro, todas as verbas e apoios devem ser dados pelo mérito e pelos resultados», insiste José Sousa, esperançado de que o governo «olhe para a canoagem de forma diferente, após esta medalha de prata».

Este ano, a federação vai receber apenas 377.000 euros do Instituto de Desporto de Portugal, enquanto do Comité Olímpico de Portugal chegam 124.000, um valor que coloca a canoagem perto da cauda dos apoios, quando, em termos de resultados, não tem havido modalidade em Portugal ao mesmo nível.

Depois de anos turbulentos, em que o estatuto de utilidade pública chegou a ser suspenso, na década de 90, a nova vida da canoagem começou após Atenas2004 com a direção encabeçada por Mário Santos.

O campeão nacional de veteranos e igualmente Chefe de Missão de Portugal a Londres2012 rodeou-se de uma equipa “capaz e ativa” que inclui antigos praticantes, entre os quais o olímpico José Garcia (melhor resultado de Portugal em Barcelona1992) e José Sousa, campeão mundial e europeu de maratonas.

A aposta em Ryszard Hoppe para selecionador foi outro dos vetores do êxito: o polaco, que já tinha títulos olímpicos pelo seu país, trouxe experiência e sabedoria, além de exigir dos seus pupilos um rigor e dedicação ímpares.

Juntamente com o adjunto Rui Fernandes, Ryszard Hoppe foi elevando ano para ano o nível da canoagem e as medalhas começaram a surgir naturalmente: só no último ciclo olímpico foram mais de 50 os pódios da modalidade entre europeus e mundiais, seniores e juniores, em pista e maratonas.

A seleção tem trabalhado em permanência com 10-12 canoístas de top, sendo que, num sistema muito apertado de apuramento, “apenas” seis conseguiram lugar em Londres2012.

Nos recentes europeus sub-23 e júnior, organizados em Montemor-o-Velho, Portugal apresentou 40 canoístas, tendo igualmente conquistado medalhas e amplo conjunto de finais, sinal de que o futuro parece assegurado.

O Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho, cujas valências ainda não estão todas operacionais, tem sido a casa da seleção e será um instrumento para potenciar futuros campeões, sendo certo que em alta competição são habitualmente necessários dois ciclos olímpicos de trabalho para haver frutos.