Estava anunciada “Uma sinfonia de música britânica”, mas não seria possível homenagear a música sem homenagear o Reino Unido na sua essência, na sua “Rush hour”: Union Jack iluminada no chão, notícias que não são notícias e sim excertos da literatura inglesa impressos em papel de jornal, um Big Ben e um London Eye improvisado, e entra a música, suporte de uma encenação de uma viagem ao longo de um dia na vida de Londres, desde a hora de ponta até ao pôr-do-sol.

Winston Churchill cita William Shakespeare para, na ausência da rainha Isabel II, se anunciar o “God Save the Queen”, cantado a plenos pulmões pelas 80.000 pessoas que lotaram o Estádio Olímpico e que viram “Madness” darem uma “Street Party” no meio das improvisadas e fictícias ruas londrinas, com “beefeaters” a estenderem a passadeira aos Pet Shop Boys, numa alusão às celebrações do jubileu.

O desfile de estrelas da música britânica não para. Não há momentos para respirar, porque ninguém quis ficar de fora, nem mesmo os mais “novatos” One Direction, os últimos “reis” de uma sucessão de 50 anos de reis e rainhas musicais. Tão depressa se ouve a precursão dos Stomp, como se está em “Waterloo Sunset”, ao som de Ray Davies, ou na tranquilidade da voz de Emeli Sandé, pretexto para a recordação das lágrimas olímpicas da alegria das medalhas à tristeza da derrota de, entre outros, o ginasta português Diogo Ganchinho.

O dia põe-se em Londres, o pano cai sobre os Jogos Olímpicos pela mão do diretor artístico Kim Gavin e dos atletas que se despedem do público, ao som de “Parade of athletes”. Desta vez não há comitivas, há uma nação de atletas com a sensação de dever cumprido.

Tempo para fotografias, em grupo, individuais, com ou sem medalhas, com ou sem bandeirinhas, ao público, ao estádio, tempo para um desfile interminável em que a bandeira britânica sofre outra metamorfose, desta vez transformando-se numa constelação de milhares de atletas vestindo as cores nacionais.

Entra a música de Kate Bush e “Here comes the Sun” reúne 303 caixas representando os 303 eventos olímpicos numa pirâmide, na qual são projetados os momentos altos dos 16 dias de Londres2012: vencedores, vencidos, sangue, suor e lágrimas, não há distinção porque, afinal, isto são os Jogos Olímpicos, como o são a entrega das medalhas da maratona ou o reconhecimento dos trabalhos dos 70.000 voluntários.

John Lennon renasce em “Imagine”, George Michael anuncia-se com os acordes de “Freedom”, num hino dos anos 90 à liberdade e à liberdade de expressão, os Kaiser Chiefs recordam The Who, alguns dos 3.500 figurantes revelam modelos e estilistas britânicos – aparecem Kate Moss ou Naomi Campbell -, com David Bowie ao fundo, e Annie Lennox viaja num navio fantasma.

O Estádio Olímpico deu lugar a uma gigantesca pista de dança com Fatboy Slim, a um coro uníssono com Jessie J, antes do mais do que anunciado regresso da mais famosa girls band da história da música: as Spice Girls reuniram-se uma última vez para cantar os dois singles dos seus dois álbuns como quinteto.

Tal aguardada como a entrada das Spice, terá sido o possível reencontro dos Oasis, mas o hino “Wonderwall” foi entoado apenas por Liam Gallagher, além de muitos dos atletas presentes numa canção que mostra a dimensão universal da música britânica.

“Always look at the bright side of life”, uma cena à Monty Python, com uma seleção surrealista de personagens antes de um canhão disparar uma bala humana a antecipar o “Survival”, hino de Londres2012 da autoria dos Muse.

Freddy Mercury, versão ecrã gigante, põe toda a gente a cantar, enquanto Bryan May e Roger Taylor representam os Queen em “Brighton Rock”, antes de uma parceria com Jessie J em “We Will Rock You”.

Na reta final, presente, passado e futuro juntaram-se: o hino da Grécia encontra o hino olímpico antes da aparição do hino brasileiro, no início da “Road to Rio”, uma transmissão de testemunho entre atual e futuro organizador dos Jogos Olímpicos com a passada do samba e a inspiração de Marisa Monte a levantarem a ponta do véu de como será a cerimónia de abertura daqui a quatro anos, certamente comandada por Pelé, num abraço ao mundo.

Coube ao presidente do Comité Olímpico Internacional, o belga Jacques Rogge, dar por encerrados os Jogos da XXX Olimpíada, com os Take That a cantarem “Rule The World”, enquanto a pira olímpica se ia extinguindo e dando origem a uma enorme fénix que antecedia os momentos finais protagonizados pelos The Who.