Os benefícios da equitação como terapêutica para pessoas com deficiências físicas ou cognitivas podem ser potenciados pela competição, como pretende mostrar Sara Duarte, única representante em provas equestres da missão portuguesa nos Jogos Paralímpicos Londres2012.

A lisboeta de 28 anos, que sofre de paralisia cerebral e tem 72 por cento de incapacidade física, começou a montar cavalos aos sete anos, quando dava os primeiros passos a "hipoterapia", ou seja, a equitação como método de tratamento deste tipo de lesão que afeta o controlo da postura, movimentos ou fala.

Graças aos movimentos do animal, os cavaleiros mexem músculos longitudinais e laterais que normalmente não mexeriam, tendo, no caso de Sara Duarte, ajudando-a a andar melhor e a ganhar equilíbrio.

«Ela caía muito, metia os pés para dentro e encostava os joelhos», contou a mãe, Isabel, à agência Lusa.

Porém, o gosto pela equitação, a evolução ao nível físico e o à-vontade junto dos cavalos, fez com que Sara tenha não só continuado como sido desafiada a fazer paradressage, competição na qual se estreou em 1999 e que a levou aos Jogos Paralímpicos Pequim2008, nos quais alcançou um quinto lugar.

Até então, reconhece a própria amazona, a prática da equitação combinava o prazer pessoal e o desejo de melhorar a coordenação motora, mas a entrada em provas desportivas exigiu mais trabalho.

«Por um lado, obriga-me a um maior empenho, apesar de ser também um gosto. Depois, é sempre aquela coisa de querer ir mais longe e chegar mais longe», disse à Lusa.

O treinador, João Pedro Cardiga, conta como Sara «era uma aventureira», impulso que, com o tempo, aprendeu a controlar.

«Queria montar-se em qualquer cavalo. E montava, se nós deixássemos», recordou.

A transição da terapia para a competição é controlada pela equipa técnica na Academia Equestre Cardiga, que pertence à família do treinador, composta por fisioterapeutas, técnicos psicomotores, psicólogos e técnicos de equitação.

Quando os praticantes mostram autossuficiência para se manterem no cavalo, começam a «explorar outras coisas» e a entrarem sozinhos no picadeiro, «sempre com as devidas precauções», sublinha João Pedro Cardiga.

«Tentamos que sejam o mais autónomos possíveis no cavalo e, a partir daí, é sempre a crescer: um bocadinho de passo, um bocadinho de trote, um circulozinho é ótimo», descreve.

A presidente da direção da Academia, Lurdes Cardiga, reconhece que esta terapia não é barata, pois exige trabalho, técnicos, cavalos bem preparados.

«É algo difícil, mas temos a certeza de que traz uma mais valia profunda para todos os praticantes a todos os níveis, cognitivo e físico, e a integração social é efetivamente uma das coisas mais valiosas que se retiram», sublinha.

Isabel Duarte confirma: a filha, que «sempre foi afoita», com a competição «melhorou muito e na parte social começou a abrir».

João Pedro Cardiga conta que Sara, que completou recentemente uma licenciatura em Farmácia, chegou a aspirar competir com os atletas sem deficiências.

Mas a experiência acumulada faz com que o treinador tenha já outras duas praticantes femininas e um rapaz com potencialidades para se estrearem no futuro em competições de equitação adaptada.

Lurdes Cardiga espera que as participações paralímpicas transformem Sara Duarte, percursora que diz ser «admirada por todos», numa «bandeira de esperança de todos os outros e abra o caminho».

Nos Jogos Paralímpicos Londres2012, que decorrem até 9 de setembro, Sara Duarte classificou-se no nono lugar na prova de paradressage e volta hoje a competir na mesma modalidade, mas em estilo livre (freestyle).