Num “court” desenhado no chão no bairro da Outurela, a Academia dos Champs alimenta sonhos de miúdos que, com mais ou menos convicção, querem fazer do ténis o seu caminho de vida.

O sol que queima não assusta, tal como não assusta o vento que desvia a trajetórias das bolas e obriga Júlio Catamará a uma corrida de última hora que, ainda assim, não evita que o ponto acabe estampado contra a rede do “court” de piso rápido da Outurela.

“Vamos Rafael Nadal”, gritam-lhe do outro lado, enquanto retoma a posição no fundo do campo e se prepara para disputar mais um ponto.

O franzino miúdo de 11 anos, o mais pequeno entre os praticantes, não teme o adversário, mesmo que este seja maior em tamanho e largura, mas deixa a timidez levar a melhor quando a proposta é falar da sua experiência no projeto que integra “vai fazer um ano”.

“Tem sido um ano bom, melhorei imenso desde a última vez que estive cá, cada dia aprendo mais com o Mister Edu, com o Mister António, com os meus colegas – eles também me ajudam”, conta à agência Lusa.

O pequeno Júlio quer continuar no ténis, quer ser como os seus ídolos, Novak Djokovic e Rafael Nadal e até jogar o Portugal Open, mas antes precisa de melhorar o seu jogo.

“Tenho de ter mais força, tenho de começar a correr mais para apanhar as bolas que vêm aqui pertinho e melhorar os meus serviços”, enumera, enquanto garante que não precisa de mais confiança.

O menino de 11 anos recorda que quando ouviu falar do ténis foi “logo” ter com a assistente social Mafalda Saravaia, perguntou-lhe se podia juntar-se aos amigos e inscreveu-se.

No entanto, apesar do empenho com que treina, Júlio tem o coração dividido: “Eu gosto mais de futebol, ando no Casa Pia”.

“Então queres ser futebolista ou tenista?”, pergunta a Lusa, para um “não sei” imediato, seguido de um silêncio profundo e uma conclusão de gente adulta: “Mas também ainda tenho muita coisa para fazer”.

No “court” da Outurela há muitos sonhos. Pequenos, grandes e gigantescos, como o de Fábio, que não faz por menos e quer jogar com Rafael Nadal, “em Paris”.

“Nunca pensei jogar ténis. Via-os jogar, pedi ao mister se podia jogar e ele deixou-me. Depois comecei a treinar”, relatou o jovem de 16 anos, que antes “só conhecia o Nadal” e agora vê todos os encontros que pode na televisão.

Fábio, que em “um ano e tal” na academia já ganhou dois dos três torneios em que participou, quer ser federado, como Filipe, o único “profissional” do projeto.

A julgar pelo que se vê no improvisado “court”, o adolescente está no bom caminho. Saem os colegas, ficam os dois, a potência da bola aumenta num ritmo frenético. Nota-se que Filipe é mais experiente, mesmo que a sua primeira experiência como federado não tenha sido a melhor.

“Já fiz um torneio. Tive a noção da realidade daqui lá fora. Ainda falta muito trabalho. O primeiro jogo perdi 6-1 e 6-0”, lamentou.

Já com 18 anos, Filipe está na Academia de Champs há quatro anos: “Andava sem fazer nada, disseram-me para vir experimentar o ténis e comecei a jogar, até agora”.

A dar os primeiros passos no “profissionalismo”, o jovem tem objetivos precisos, que rondam o nome de João Sousa.

Filipe gostava de ser como o tenista de Guimarães. Aliás, gostava de ultrapassá-lo nos rankings como melhor português de sempre.

João Sousa é o ídolo “português”, porque os maiores são “Federer e Nadal”. Roland Garros é o torneio preferido, pela terra batida. Não sabe se vai chegar lá, mas vai trabalhar para isso, com “muita” motivação.

“Ficava a fazer porcaria antes, agora mantenho-me entretido. A Academia tem-me ajudado muito”, assegurou.

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